domingo, 30 de outubro de 2011

Conhecendo a Europa a partir de Wageningen


Não se pode dizer que a cidade holandesa de Wageningen está bem localizada na Europa e oferece acesso fácil a todas as principais cidades europeias. Ainda assim, em termos de mobilidade e distância entre as cidades, há diferenças gritantes em relação ao Brasil, mas eu diria também em relação a Portugal no que tange a extensão da malha ferroviária (comboios). Wageningen não tem estação própria, apenas divide o nome com a Estação Ede-Wageningen localizada no município de Ede (10km), mas com fácil acesso por meio dos ônibus da Connexxion a partir Estação Wageningen, quem fica bem no centro da cidade. 

Inicialmente vamos responder àquela velha questão: Qual a forma mais barata de viajar pela Europa? Simples, de ônibus (autocarro). Isto mesmo, tal como estamos acostumados no Brasil, mas com uma diferença significativa, a qualidade das estradas. Por isto, se você é bolsista e quer economizar muitos euros, tiver paciência e souber aproveitar os finais de semana, as folgas e os feriados (raros na Holanda), a melhor e primeira opção é viajar de ônibus mesmo. Como fazer isto? Visite o site da Eurolines e veja os destinos possíveis, preferencialmente a partir de Utrecht ou Arnhem, dependendo do destino. Novamente mais um problema em Wageningen, não há partidas de ônibus da Eurolines, apenas conexões regionais que levam às cidades vizinhas (Arnhem, Utrecht, Veenendaal, Tiel, Ede). Em relação aos preços, para fins de exemplo, uma passagem de ônibus a partir de Utrecht para Paris pode custar 28 euros ida e volta, ou seja, considerando a passagem de ônibus Wageningen-Utrecht, 5,40 ida e volta, o gasto total de uma viagem para Paris será de 33,40 euros por pessoa; para Londres, também a partir de utrecht, ida e volta, 31 euros (+ 5,40, total 36,40 euros). 

Para viagens dentro da Holanda, para destinos como Amsterdam, Haia (Den Haag), Rotterdam, Delf, Maastrich, etc, a melhor opção mesmo é viajar de trem, especialmente para os que fizerem o cartão da NS, que pode dar até 40% de desconto em viagens dentro da Holanda e 15% em outros países (a verificar em cada caso). Para verificar os horários, tempo de viagem e valores basta visitar o site da NSTendo Amsterdam como exemplo, uma passagem ida e volta pode custar de 15 a 25 euros ida e volta, dependendo dos descontos. Mas atenção! Há condições especiais para usufruir dos descontos, e nem adianta bancar o esperto e tentar comprar com descontos sem o cartão, pois já vi gente ser convidada a se retirar do trem ou pagar altas multas pelo não cumprimento das regras; neste caso a esperteza sai bem cara. 

De trem também se é possível viajar para outros países, e para este fim o site indicado é o NShispeed, onde com antecedência se é possível comprar passagens também a preços módicos, como por exemplo o trajeto Ede-Wageningen – Bruxelas, que pode sair até por 29 euros ida e volta. Bruxelas, aliás, é um bom roteiro por se tratar de uma viagem que pode ser feita em um ou dois dias, assim como Colônia na Alemanha, que está a apenas duas horas de Wageningen e na promoção chega a custar 30 euros por pessoa ida e volta. Viagens para cidades como Paris, Londres e Berlim já começam a apresentar preços mais salgados quando feitas de trem, assim é preciso mensurar a relação custo-benefício-tempo de viagem, para definir qual a melhor formar de viajar. Contudo, com uma boa antecedência de compra (2 meses), uma viagem de Ede-Wageningen para Londres pode sair até por 99 euros. Não custa lembrar que todos os valores acima referem-se a tickets na segunda classe, mas se o viajante quiser mais comodidade, pode pagar um pouco a mais para não correr o risco de viajar em pé. Como?! Em Pé? Isto mesmo, a segunda classe aqui é lotada e não tem lugar reservado, especialmente em dias úteis, assim prepare-se para a possibilidade de viajar em pé ou sentado nas escadarias. 

Mas dependendo do destino, uma viagem de ônibus ou de trem pode ser muito cansativa ou requererá muito tempo e paciência. Para estes casos vale a pena considerar as viagens aéreas, especialmente nas chamadas low costs, que apresentam excelentes preços, mas requerem um cuidado extremo com as “entrelinhas” para não se pagar além do previsto. Neste item a primeira Cia aérea que vem à mente e ao bolso é Ryanair, onde se é possível adquirir passagens por menos de 10 euros por trecho (compradas com muita antecedência). Porém a Ryanair tem suas regras consideradas extremistas, se você sair da linha, excedendo os limites da bagagem de mão ou simplesmente não imprimindo seu e-ticket, pode perder de 40 a 60 euros num piscar de olhos. O segredo de viajar numa low cost é seguir as regras do jogo e parar de pensar que para tudo tem jeitinho. Tudo que sai da regra para eles é lucro. A Ryanair não é nada mais do um ônibus que voa, com o agravante que não há numeração nas poltronas – entrou, corra e pegue seu lugar. Outra coisa, se quiser algo dentro do avião, pague! Vale observar que para embarcar pela Ryanair é preciso ir a Eindhoven (30 euros ida e volta a partir de Ede-Wageningen). 

Mas nem só de Ryaniar vivem as low costs, segue uma relação das principais empresas na Europa, com atenção especial para holandesa Transavia (que segundo dizem é patrocinada pela KLM) onde os preços são um pouco mais altos, mas há várias possibilidades de pagamento, inclusive via iDeal (pagamento online). Pessoalmente dou preferência aos vôos a partir da Schiphol - Aeroporto de Amsterdam que é considerado o melhor do mundo (27 euros ida e volta da Estação Ede-Wagenigen), mas deve-se analisar caso a caso. 





Para alem das low costs há as grandes e tradicionais empresas aéreas do setor, dentre elas a KLM – Royal Ducht Airlines, a qual dou preferência em minhas viagens por ser uma empresa local que dependendo da antecedência da compra oferece bom descontos, com preços a partir de 99 euros ida e volta para destinos como Roma, Paris, Milão Barcelona, Berlim, ou seja, quase o mesmo preço das low costs mas com serviços e comodidade superiores. No site da Agência Schiphol também se é possível consultar e até  adquirir passagens para vários destinos. 

Caso você não queira esquentar a cabeça, há os pacotes oferecidos pelas agências de viagens, em Wageningen especificamente há duas fortes no setor na Holanda, a Arke e a D-reizen, sendo que pode-se ir direto às lojas físicas (ambas ficam na Hoogstraat 101 e 55 respectivamente) ou visitar os sites, onde há uma infinidade de pacotes que incluem hotéis, transporte, city tour, etc. Novamente cuidado, pacote é pacote, sabe-se lá a qualidade e localização do hotel, sem falar que nas excussões de ônibus, por exemplo, todos serviços são voltados para holandeses, ou seja, com guia turístico holandês, com informações eminentemente em holandês. Para fins informativos, uma excussão de ônibus para Paris por 3 dias (chegada à noite + um dia inteiro + retorno pela manhã), incluindo o hotel e city tour, sai por 99 euros por pessoa. O "porém" neste exemplo está no hotel, que fica no anel rodoviário de Paris, e na próxima linha de metro, que fica a 20 minutos caminhando. Eis que vale novamente a lei do bom senso, vale a pena? Sim, mas o importante é ter sempre todas estas informações claras para evitar frustrações.

A decisão de viagem é um ato pessoal e diretamente ligado ao bolso de cada um. Todos sabemos onde mais aperta o calo e não adiantar querer apertar mais do que se pode aguentar, assim planeje-se, escolha bem destino, calcule bem, incluindo em sua planilha os os traslados ida e volta do aeroporto,estação de trem ou de ônibus. Nunca, eu digo NUNCA, faça uma viagem sem ter pesquisado a fundo para onde vai, com informação sobre transportes públicos, localização do hotel ou local de acomodação, dicas de refeição barata, atrações turísticas, entres outras. Ainda assim, com todo planejamento, alguma coisa sairá do lugar, eis que é preciso estar preparado para imprevistos, e neste caso, tenha sempre alternativas à mão, pois de qualquer forma você estará em outro país além da Holanda (seu lar agora). 

Boa viagem! 

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Finanças pessoais no exterior, um choque de realidade



Este é um tópico sério, e diria vital para quem vai morar exterior, especialmente para estudantes que precisam ter a mente tranquila e centrada para aproveitar melhor a oportunidade de ampliar conhecimentos. Uma mente apreensiva com o descontrole financeiro dificilmente terá um nível satisfatório de aproveitamento requerido numa universidade no exterior, perdendo facilmente o foco e desviando suas atenções para fatores que não pertencem aos objetivos do estágio. 

Sendo bem prático, direto e sem ilusões, as bolsas concedidas pela CAPES, no valor de 1.300 euros para doutorandos e 2.000 euros para pós-doutorandos, atendem minimamente as necessidades básicas de sobrevivência de um estudante ou profissional em outro país e podem apresentar um maior ou menor poder aquisitivo dependendo do país. Falando especificamente da Holanda, o próprio Ministério dos Assuntos Sociais e Emprego (Ministerie van Sociale Zaken en Werkgelegenheid) local reconhece que o custo de vida é em dos mais altos na União Europeia ao fazer uma comparação com as condições salariais de cidadãos portugueses que desejam trabalhar no país (manual em português: Trabalhar na Holanda). Para que se tenha uma ideia mais clara, o salário mínimo holandês (para maiores de 23 anos) vigente desde janeiro de 2011 é de 1.424,40 euros, em Portugal é 485 euros e no Brasil em torno de 230 euros. Exemplificando, o bolsista em estágio terá de se adaptar e viver na Holanda com um valor abaixo do mínimo pago a um cidadão nativo (desconsiderando-se os impostos) e sem os benefícios oferecidos pela Rainha Beatriz (Beatrix Wilhelmina Armgard, Rainha da Holanda), que na verdade é uma grande mãezona que carrega os cidadãos no colo com um amplo aparato de bem estar social. Segue tabela com os salário mínimos holandeses (por faixa de idade):

Fonte: Ministério dos Assuntos Sociais e Emprego da Holanda, 2011
Agora vamos aos cálculos tendo como uma bolsa de 1.300 euros concedida pela CAPES, valor este que é depositado trimestralmente em conta corrente em aberta em território holandês, resta lembrar que os valores do auxílio instalação, 110 euros/mês, e seguro saúde, 70 euros/mês, são depositados em conta corrente no Brasil aproximadamente 10 dias antes do embarque. Um bolsista que terá seis meses de estágio, por exemplo, desembarcará na Holanda com 1.080 euros no bolso (caso o bolsista não tenha reservas financeiras). Aconselho a NÃO confiar que este valor será suficiente, pois não será, até porque deve se estar preparado para imprevistos, incluindo complicações na hora da abertura da conta corrente, o que poderá ocasionar atrasos nos primeiros depósitos. 

Grande parte da complicação e dos gastos está no aluguel, que consumirá boa parte da bolsa, especialmente para casais, onde um quarto oferecido pela Idealis ou pela INfacilities (empresas que tem convênios com a WUR - Wageningen University) pode variar de 475 a 600 euros em média. Já para os solteiros o valor é menos salgado e gira em torno de 350 euros por um quarto. Fora das opções oferecidas pelas conveniadas da WUR, há o mercado privado, onde se é possível encontrar apartamentos completos e mobiliados de diversos padrões que facilmente ultrapassarão a casa dos 1.000 euros mensais, algumas vezes incluindo gás, água e luz (com alguma sorte TV e internet). Falando nisto, reserve valores também para o rateio destas utilidades (gás, água, luz), dependendo do tipo de moradia, lembrando que na Holanda não há leitura do consumo (as empresas apenas calculam uma média de consumo de padrão). Por experiência própria, deve se estar preparado para 80 a 100 euros por pessoa no consumo, dependendo do período do ano (nos meses mais frios o consumo de gás aumenta em função da manutenção da temperatura interna dos imóveis). 

No supermercado os gastos serão variados, eminentemente para a alimentação, mas deve-se contabilizar também os materiais de limpeza e de higiene pessoal. Neste caso vale muito considerar o perfil do consumidor, em qual supermercado se faz as compras e a adaptação aos hábitos alimentares locais. E não adianta fazer cara feia, a alimentação terá de ser adaptada conforme os produtos disponíveis, e sem essa de não “como aquilo”, não “como isto”, não “gosto daquilo”, geralmente as pessoas mais inflexíveis são as que mais sofrem no exterior. Esqueci dos valores? Calma, um casal controlado consegue não ultrapassar a marca dos 250 euros mensais (no máximo 300 euros), mas logo aviso, o gasto maior é no primeiro mês, onde logicamente gasta-se bem mais em função dos ajustes e testes de consumo. Para os solteiros, não vejo razão para gastar mais do que 200 euros por mês no supermercado (e com muita folga).

Alimentar-se fora de casa não é proibido, mas deve ser regulado com muita sabedoria, pois uma refeição "de nada" na cantina da universidade, em geral sanduíches, saladas e sucos, pode atingir facilmente o valor de 5 euros, e assim, de 5 em 5 euros lá se vai sua rica bolsa. Sabe aquele hábito freqüente de sair para jantar, almoçar, lanchar? Esqueça, este mundo não pertence a um bolsista. Quer dizer que está proibido? Lógico que não, mas refeições fora de casa aqui na Holanda tem seu preço e tais “extravagâncias" devem ser reservadas a momentos que realmente valham a pena. Sair para beber com os amigos? Ok, tá valendo, cerveja aqui é quase de graça, especialmente nos supermercados. Considero 50 euros por mês suficientes para ficarem reservados no Chipknip para eventuais refeições na universidade, já para as saídas com os amigos, aí depende de cada um. 

Bom, lembra-se daqueles 1.300 euros por mês? Pois é, não são mais, agora são 600 euros para os solteiros (350+100+200+50) e 300 euros para os casais (500+200+250+50), isto sem computar os 48 euros do seguro de saúde que você inteligentemente se resguardou ao depositar aqueles 420 euros reservados para os descontos em conta corrente para seguradora. Alguém deve estar perguntando, “mas e as despesas com transporte?” Esqueça, compre uma bicicleta e reserve uns euros para eventualidades, pois ninguém merece pagar 3,20 euros por dia para ir e voltar da universidade “só para não cansar muito”. 

Fora tudo isto é preciso pensar na aquisição de livros importantíssimos para sua pesquisa e que dificilmente você encontraria dando bola numa prateleira no Brasil. Lembra–se daqueles livros que demoram uma eternidade para chegar quando comprados na Amazon no Brasil? Pois é, aqui chegam mais rápido e podem ser mais baratos. Mas tem uma outra forma de adquiri-los de forma mais rápida ainda, via site Bol.com, que é excelente e aceita pagamento online via iDEAL, debitado diretamente em sua conta corrente. Também reserve um valor para o vestuário para enfrentar o frio holandês, pois por mais que sua avó tenha sido gentil em tricotar um cachecol para você não passar frio por aqui (que fofo), sinto muito, quase nada do que você tenha trazido do Brasil sequer vai aguentar o primeiro ventinho do outono nesta região do planeta. 

Peraí? Mas e as viagens, tipo Paris, Londres, Barcelona, Roma, Berlim? Pois é, vai depender do seu perfil de controle financeiro, das suas economias e dos contatos e amigos que você tem mundo afora, porque senão adeus tranqüilidade financeira. Vale sempre lembrar qual o propósito da bolsa, e com certeza não é para fazer turismo, senão ela não seria tão estreitamente calculada. Mas ninguém é de ferro e você terá oportunidades de fazer algumas viagens (mas não todas), especialmente relacionadas com sua temática de pesquisa, as quais podem até ser financiadas pelo grupo de pesquisa a que você estive associado. Assim, tenha paciência, calcule bem e não meta os pés pelas mãos, pois aqui não há aquele “crédito pronto” liberado imediatamente em conta corrente na hora do aperto. Ou você se organiza, ou vai ter dor de cabeça. 

Este é um dos tópicos mais longos que escrevo, mas por um motivo justo, o ALERTA. É preciso ter em mente que a desorganização financeira pode transformar o que seria uma oportunidade de aprendizado num fatídico pesadelo. Caso você tenha outras fontes de renda, que não aquelas conflitantes com a bolsa, ótimo, você vai aproveitar melhor ainda seu estágio e ampliar seu leque cultural com destinos interessantes nos ses dias de folga. Porém, caso dependa somente da bolsa, não vale o risco, seu lucro já está em receber uma grande oportunidade de intercâmbio profissional em uma das 75 melhores universidades do mundo conforme o ranking da Times High Education 2011-2012. Este é o atual estágio da Wageningen University and Research Center, quer experiência melhor do que esta?