domingo, 7 de julho de 2013

A Holanda está livre da crise?

Foto Reuters

Não, não está. Pior ainda, ela não somente está na crise como faz parte dela. O brasileiro na Holanda perguntará, “mas está tudo bem aqui”, “há várias ofertas de emprego”, “nenhum jornal fala disso”, e assim vai. Entretanto, os diques não protegerão a Holanda dos problemas externos e contribuirão ainda mais para ofuscar a dimensão dos problemas domésticos. 

Em recente artigo publicado pelo Der Spiegel, intitulado “Holanda é vítima da crise econômica” (02/04/13), o jornal foi categórico ao afirmar, “Nenhum país da zona do euro está tão profundamente endividado como a Holanda”. Este é um fato, os bancos holandeses registraram 650 bilhões de euros em empréstimos até o fim de 2012. A recente nacionalização do SNS Bank é uma prova de que o governo holandês já está atuando para amenizar os efeitos da crise. Em seu site oficial, próprio governo dos países baixos considerou que a nacionalização “tornou-se necessária porque o SNS se encontrava em sofrimento agudo por conta de seus problemas imobiliários”. 

O The Wall Street Jornal (08/05/13) vai um pouco mais longe e de forma alarmante não exita em dizer que “a austera Holanda irá detonar o Euro”. Alguns dados realmente não podem ser ignorados, como vem fazendo os principais noticiários holandeses. Difícil seria acreditar que De Telegraaf colocasse em sua primeira página que as dívidas dos consumidores na Holanda atingiram 250% do rendimento disponível (mais altas do mundo). 

Muitos brasileiros na Holanda ainda vivem em seu “conto de fadas” ou na “ilha da fantasia” acreditando que “tudo será para sempre, agora tanto faz”, como diria a Cássia Eller. Nossos anos de sofrimento nos períodos hiperinflacionários, nos apertos dos anos 90 e da falta de resolução de problemas estruturais que ainda perduram até hoje, talvez nos ceguem quando desembarcamos em países como a Holanda, onde praticamente tudo está resolvido. Esta negação talvez nos impeça ver os preços dos imóveis estavam altos em determinado momento na Holanda e subitamente começaram a cair. Mas e daí? O que isso impacta no dia-a-dia? 

Os diques financeiros que protegeram a os Países das turbulências do mar da crise global se romperão cedo ou tarde e colocarão o sistema financeiro literamente debaixo d´água. Óbvio que o Governo Holandês sabe disso e já trabalha no sentido de minimizar os impactos, estando preparado, como me confidenciou um colega holandês em uma reunião de um grupo de parlamentares na Frísia em 2011 (comissão parlamentar de agricultura e meio ambiente), a agir drasticamente para salvar a sociedade. Para tanto, há uma lista de prioridades; primeiro, salvar o sistema financeiro, custe o que custar, a todo custo, mesmo que isto custe a saída da zona do euro; segundo, proteger a Casa Real, símbolo da unidade do país; terceiro, a sociedade holandesa em geral, entendidos como holandeses natos ou naturalizados. 

Alguns sinais claros desta movimentação já foram dados, tais como as mudanças na lei imigração ou a aprovação pelo parlamento holandês e de ordem de expulsão de requerentes de asilo (em torno de 26 mil pessoas). Há também um novo Rei, Willem-Alexander, que provavelmente terá mais vigor para encarar possíveis problemas. Mark Rutte também está se esforçando na aprovação e condução de medidas de austeridade. 

É provável que logo as agências de classificação de risco tirem o triplo A holandês (Standard & Poor’s, Fitch, Moody’s), mas isto não significa que o país está insolvente. Longe disso, a proporção do endividamento em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) holandês é de 71,2%, ou seja, em tese a conta é pagável. Na Alemanha este percentual chega a 81,9%, na França no Reino Unido alcança 90%. Já no bloco do “Deus me livre, salve-se quem puder”, encontram-se Portugal, com 123,6%, Irlanda com 117,6%, Itália com 127% e Grécia com 156,9% (Eurostat, 2013). Cadê a Espanha? Está com 84,2% de endividamento em relação PIB, o que prova que não é somente esta relação que entra na conta, há na verdade uma conjunção de variáveis. 

Mas vamos a parte prática. Aquele mundo das mil maravilhas, onde o sujeito comprava um imóvel de 400 mil euros e o banco carinhosamente emprestava mais uns 50 ou 70 mil euros para uma ‘reserva’, não existe mais. O imóvel que o cidadão achava que poderia lucrar com uma possível valorização para venda não chegará nem a 350 mil euros, e o valor tende a cair ainda mais. A lógica parecia simples, bastava guardar a ‘reserva’ e esperar a valorização do imóvel e haveria dinheiro suficiente para saldar os empréstimos e ainda renderia um super lucro. Enquanto tudo mundo tiver seus empregos e salários para pagar a conta, tudo bem, mas e se algo der errado?

O efeito de viver uma vida além do que os próprios meio financeiros permitem é uma tragédia anunciada. Em determinado momento as linhas de crédito se fecham, e neste momento, quando as contas deixam de ser pagas em massa, qualquer sistema entra em colapso. Replicando a fala de Jörg Rocholl, presidente da Escola Europeia de Administração e Tecnologia em Berlim (entrevista ao Der Spielgel), fica fácil compreender a dimensão do problema: "Os consumidores estão endividados demais e não conseguem pagar os juros dos empréstimos. Isso causa problemas aos bancos, que já não estão fornecendo dinheiro suficiente para a economia. Isso causa uma retração econômica e aumento do desemprego, o que dificulta ainda mais o pagamento dos empréstimos”. Bingo!

A extração do gás em Groningen é outro problema a ser resolvido. Descoberta em 1959, estima-se que a reserva até 2012 tenha rendido ao país algo em torno de 250 bilhões de euros, 11,5 bilhões somente em 2012 (segundo El Pais no artigo “Holanda asume el riesgo de seísmos a cambio de extraer gas natural”, 18/02/13). Porém, desde 1986 vem ocorrendo tremores de terra na região, que em geral oscilam entre 3,2 e 4,2 graus de magnitude na escala Richter. Estudos e dados oficiais revelam que os tremores têm potencial para alcançar 5 graus nesta escala. Reduzir a extração, ainda que em baixos níveis (20%), custaria aos cofres holandeses aproximadamente 2,2 bilhões euros por ano.

Com todos estes dados em mãos, o brasileiro na Holanda, que recebeu o melhor do país, também deve preparar-se para possíveis ondas inquietas nos litorais financeiros holandeses. Historicamente pragmáticos, eles sabem que jamais se devem menosprezar as “marolinhas” da vida e agirão com firmeza para defender seu status quo, ainda que sob medidas radicais para defender a estabilidade do país. 

Em um cenário extremo, existe sim a possibilidade de ruptura do euro. Se isto acontecer, e se for a Holanda iniciar a debandada do euro, apertem os cintos, pois o tombo global será feio, especialmente nos países desenvolvidos. O que não justifica é o brasileiro na Holanda continuar em berço esplêndido crente que o sistema é perfeito. Nenhum sistema é perfeito.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Closing Time

Hora de fechar as portas, de compreender que tudo tem um ciclo de vida, com começo, meio e fim, e não adianta postergar, sempre é chegada a hora de um novo rumo, outros objetivos, e como diz a canção “Closing Time”, do Semisonic, todo novo começo vem do fim de um algum outro começo. 

Quando no final de 2010 fui selecionado para o doutorado sanduíche na Universidade de Wageningen, passei a coletar quaisquer informações possíveis sobre a Holanda, a cidade e a universidade, passando desde as documentações a aspectos culturais do país em que iria residir. Encontrei muita coisa, muitos blogs, muitos sites, entre eles um que é referência, o “Brasileiros na Holanda”, administrado por Márcia Curvo, a qual considero hoje uma grande amiga na Holanda. Porém, pouco encontrei de forma sistemática e sintética sobre Wageningen nos moldes em que precisava para me preparar para a viagem, a não ser os relatos da Carla Mello, do Blog “Carla na Holanda”, a qual não cheguei a conhecer pessoalmente, mesmo estando em Wageningen no mesmo período que ela. 

Decidi então criar e escrever meu próprio blog com algumas informações sobre Wageningen e sua Universidade, porém sem a pretensão de encerrar todos os assuntos, afinal, há muito o que se falar, assim fixei-me didaticamente nos principais pontos, desde o começo, passo a passo, de como chegar, instalar-me, residir e partir de Wageningen. E o meu período foi curto, 28/05/2011 a 28/11/2011, apenas seis meses, que hoje tenho certeza, deveriam ter sido 12 meses. Entretanto o que vale não é quantidade do que se vive, mas a intensidade, e estes meses foram intensos, alucinantes, marcantes e inesquecíveis em minha experiência estudantil, tratando-se de um momento que desejaria a todos os estudantes, em quaisquer níveis e em qualquer idade. Nada se compara à experiência de sair de seu confortável mundo e vê-lo como ele realmente é, por um outro ângulo, outros olhos. E olha que quando me refiro à palavra “mundo”, falo de todos os mundos, desde o acadêmico ao pessoal. 

Não conheci tantas pessoas quanto gostaria, não vistei todas as cidades e países que queria, acho até que estudei menos do que deveria. Em contrapartida isto dá um gosto de quero mais, de que o pós-doutorado está logo ali e que definitivamente deixo uma parte de mim na Holanda, dizendo um “até breve”, logo estarei por aí, encontrando os amigos ocasionalmente num canto qualquer da Hema, no Grote Markt ou no Albert Heijn (que todos reclamam do preço mas todo mundo compra lá). 

Quem já passou por Wageningen sabe que há uma simpática brasileira por lá, a mãe do Dudu, a Anabele, essa sim entende de holandeses e de Wageningen e é praticamente uma cicerone da brasileirada, a quem agradeço por fazer este importante papel agregador aos que chegam de pára-quedas na cidade. Quer encontrar mais brasileiros? Participe da lista_brwur@yahoogroups.com , estão todos lá. 

Agradeço também ao Rural Sociology Group (RSO) da Wageningen University (WUR), onde fui orientado por Jan Douwe van der Ploeg, um ícone vivo nos estudos de Sociologia Rural. Aos colegas, um abraço especial para Femke Hoesktra (Holanda) e Gina Vilarreal (México), as lideres dos doutorandos, abraço qual por meio delas estendo a todos os outros colegas. Sou grato também a Douwe Hoogland, meu anfitrião nos dias em que estive na Frísia, o qual considero um legítimo amigo holandês 

Chega de palavras, hora de escrever minha tese, vamos às imagens, na verdade um vídeo, onde eu e minha esposa Jackeline damos um até breve, e nele, nossos amigos e colaboradores deste blog, Andrea, Hudson, Lucas, Di e Marcela. Super abraço a todos.




quinta-feira, 15 de março de 2012

Estudando o Mundo: Um imenso programa de bolsas poderá impulsionar o crescimento econômico do Brasil

Foto: AFP
Fonte: The Economist

Vender as proezas tecnológicas e o crescente mercado de TI de seu país foi a agenda de negócios de Dilma Roussef na grande feira de Hannover em 5 de março. Mas a presidente do Brasil fez questão de posar para fotos com jovens compatriotas que no mês passado começaram a estudar em universidades alemãs sob seu novo programa governamental de bolsas de estudos, o “Ciência Sem Fronteiras”. 

Até o final de 2015 mais de 100.000 brasileiros, metade deles estudantes de graduação, outra metade estudantes de doutorado, passarão um ano ou mais no exterior nas melhores universidades ao redor do mundo estudando temas como biotecnologia, oceanografia e engenharia de petróleo, os quais o governo considera como essenciais para o futuro da nação. Isto irá custar 3 bilhões de reais (1,65 bilhões dólares), um quarto dos quais virá de empresas e do resto do contribuinte brasileiro. 

O “Ciência Sem Fronteiras” é mais ousada tentativa do Brasil de mover a engrenagem econômica. A tendência da taxa de crescimento do país, de 4 a 4,5%, é ligeiramente inferior à média latino-americana e muito mais lenta do que nos outros países do BRIC. As autoridades esperam que a melhoria da qualidade da força de trabalho poderá fazer uma grande diferença, mas levará algum tempo para surtir efeito. 

Os empregadores reclamam da dificuldade de encontrar pessoal bem qualificado, o desemprego está em um baixo registro, brasileiros com nível superior ganham 3,6 vezes mais do que de os com ensino médio; tais números não são vistos em nenhum país no âmbito da OCDE, o grupo de países mais ricos. Funcionários treinados em disciplinas de ciências e afins são particularmente escassos. Segundo o IPEA, muitos dos 30.000 engenheiros que o Brasil produz a cada ano vêm de instituições medíocres e que, de qualquer maneira, o país precisa de duas vezes esse número. As autoridades esperam que os estudantes voltem com novas idéias captadas no exterior e elevem os padrões nas universidades de origem também. 

Universidades e governos estrangeiros estão “saltitantes” com a chance de ensinar os alunos brasileiros. Os Estados Unidos já se inscreveram para levar 20.000, Grã-Bretanha, França, Alemanha e Itália terão de 6.000 a 10.000 cada. Os Retardatários já estão lutando para atrair o resto. Os brasileiros vão pagar taxas integrais e os países de acolhimento espiarão o retorno de longo prazo na construção de contatos mutuamente lucrativos, nos negócios, bem como na educação. 

"A escala e a velocidade deste programa são sem precedentes", diz Allan Goodman, do Instituto de Educação Internacional, um grupo sem fins lucrativos que gere o programa para universidades americanas. Ele está organizando colocações de três meses na indústria para todos os seus visitantes brasileiros. A Universidade de Edimburgo espera os seus primeiros alunos bolsistas brasileiros para setembro. Ela já tem ligações com a Petrobras, empresa de petróleo do Brasil controlada pelo Estado, e está abrindo um escritório regional em São Paulo, seu terceiro depois de Pequim e Mumbai, para aproveitar o que ele espera venha a ser um crescente número de alunos. 

Até agora, poucos brasileiros tem estudado no exterior. Os Estados Unidos são o destino mais popular, ainda no ano passado havia apenas cerca de 9.000 brasileiros em seus campi (excluindo estudantes da língua). Os contingentes chineses e indianos juntos chegaram a 260.000. Os brasileiros que têm diplomas estrangeiros tiveram uma influência desproporcional de volta para casa. Na década de 1960 e 1970 o governo pagou por doutores no exterior na exploração de petróleo, pesquisa agrícola e design de aeronaves. O Brasil é hoje líder mundial em todos os três campos.

Tradução: Márcio de Araújo Pereira

sexta-feira, 2 de março de 2012

Estudando no exterior, com filhos



Quando recebemos a notícia da aprovação do estágio pós doutoral em Wageningen, nossa filha Marcela estava completando três meses. No entanto tivemos mais três meses para preparar todos os detalhes financeiros, de documentação e principalmente psicológico para encarar um ano em um país totalmente diferente com o que estamos acostumados e somente “nós três” (ainda mais vindos de uma família bem grande). Neste período todos perguntavam como seria a adaptação da Marcela aqui e sempre respondíamos que seria a melhor possível, pois com apenas 6 meses, dali pra frente seria tudo normal para ela, já que não conhecia quase nada.


Preparadas as bagagens (duas malas de 32 kg) uma praticamente foi cheia de fraldas, pois não sabíamos o que ia acontecer... Foi a primeira vez que a Marcela viajou de avião e encarou uma viagem de 15 horas (pois ficamos 4 horas parados na pista do aeroporto de Guarulhos aguardando um “problema técnico” com bagagens).

Chegamos em Wageningen sem moradia definida (apesar de horas pesquisando alguma oportunidade pela internet) - aqui é muito difícil encontrar moradia quando se tem crianças, pois é uma cidade considerada para universitários e a maioria dos estudantes vem sozinhos ou, no máximo, em casal. Resolvemos ficar uns dias em um Hotel, onde na mesma semana da chegada fomos visitar um apartamento (que fizemos contato com uma imobiliária ainda no Brasil). Pura coincidência, mas o dono desse blog era o morador anterior do apartamento, e desde daí já nos deu a dica de “fecharmos” o contrato para um ano (até o final do estágio), ou seja, todo o período que ficaremos aqui. 


Devidamente instalados, deu início ao estágio da mamãe e o papai ficou com a Marcela em casa. Com o endereço definido tudo fica mais fácil - a Marcela recebeu mais correspondências que a gente. Foram pedidos de calendário de vacinação, convite para a primeira consulta, e o bom de tudo, de graça. No segundo mês que estávamos aqui a Marcela já recebeu sua primeira vacina européia (o calendário de vacinação é praticamente o mesmo do Brasil, apenas tem um acréscimo de uma vacina de pneumologia, perfeitamente compreensível devido ao clima). A cada dois meses são marcados appointments para uma avaliação médica periódica (seria tipo o SUS do Brasil). Mesmo com todo o cuidado foi inevitável o surgimento de um eczema na pele da Marcela, devido ao clima extremamente seco dentro de casa (por causa do sistema de calefação). Várias “b yhnb fzzfxzz Mn “ (esta parte foi escrita pela Marcela) foram as “extra” consultas (estas feitas pelo convênio, médico da família - huisarts), mas tudo que foi prescrito não adiantou, apenas quando foi encaminhada para um especialista, e usamos a pomada especifica para o tal eczema, tudo melhorou, e melhor ainda, toda medicação será reembolsada pelo convenio. 



Aqui a Marcela começou a engatinhar, andar, viu neve, comeu batata frita, fez aniversário de um aninho, e estamos planejando, em breve que ela frequente alguns dias na daycare (a creche daqui, subsidiada pelo governo) para se integrar com as crianças. Vimos por aqui outros casais que vieram com filhos mais velhos que a pequena Marcela e se adaptaram rapidamente (colocando seus filhos em creches e/ou escolas daqui). 



Devido ao orçamento restrito pelo elevado preço da moradia, ainda é possível realizar viagens, desde que bem planejadas, nada impede viajar com crianças, mas é preciso atentar-se na questão hospedagem, meio de transporte e aparatus necessários à pequena (visando seu bem estar durante a viagem). 

Após seis meses morando aqui podemos chegar a uma conclusão de que mesmo com filhos pequenos não existe motivo para desistir de uma oportunidade de morar em outro país, conviver com outra cultura, vivendo experiências únicas, e voltar para o Brasil com uma bagagem diferenciada por fazer um estágio no exterior.



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Holanda oferece bolsa integral para Mestrados e Doutorados


Fonte: 180 Graus.com in: Brasileiros na Holanda

O Governo Holandês está com bolsas integrais para cursos de curta duração, mestrado e doutorado em diversas áreas de estudo. Financiado pelo Governo Holandês, o programa oferece cursos ministrados em inglês para profissionais brasileiros. O objetivo é estimular a capacitação profissional de países em desenvolvimento, incluindo o Brasil. Para isso foi criado o NFP - The Netherlands Fellowship Programmes.

O programa é voltado para profissionais de meio de carreira. O candidato deve estar empregado e escolher um curso que contribua para o desenvolvimento da organização em que ele trabalha.

Um dos sistemas educacionais mais internacionalizados do mundo, a Holanda tem uma política de estímulo à diversidade cultural que privilegia a atração de talentos globais. Com 80% das universidades de pesquisa listadas entre as 200 melhores do mundo pelo *Times Higher Education Ranking*, o país é a prova de que essa fórmula pode dar certo.

Para atrair estudantes estrangeiros de alto desempenho, o Governo holandês aposta no rigoroso controle de qualidade das suas universidades e na oferta de bolsas de estudos a alunos de excelência. O NFP complementa o salário que o beneficiado deveria continuar a receber enquanto está fora do país de origem. A bolsa também pode cobrir custos de anuidades, vistos, viagens e de pesquisa para a tese.

Os três principais requisitos são:

- Ser apoiado pela sua empresa;

- Proficiência no idioma inglês;

- Ser aceito pelo curso escolhido na universidade holandesa;

Quem não se enquadra no perfil pode tentar participar dos programas de bolsas institucionais oferecidos pelas universidades holandesas. Ao todo, são mais de 60 opções para estudantes brasileiros. Os critérios de seleção

variam de acordo com a instituição e o curso escolhido, mas inglês fluente é sempre mandatório.

A Nuffic Neso Brazil, fundação subsidiada pelo Ministério da Educação Holandês, orienta e informa gratuitamente estudantes interessados em ingressar no ensino superior do país. Para conhecer os cursos e obter mais

informações sobre o NFP e outras opções de bolsas, acesse www.nesobrazil.org/nfp2012

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O inverno em Wageningen

Por Edilaine P. Batista Mendes

Centro de Wageningen
Foto: Lucas W. Mendes

Enfim chegou neve de verdade! No ultimo dia 3 de fevereiro uma nevasca deixou a Holanda toda branquinha. Por mais de 4 horas, Wageningen permaneceu recebendo do céu lindos floquinhos de neve. 

Todo brasileiro que vem a primeira vez para um país do hemisfério norte tem o desejo de vivenciar esse momento, que é mágico. Parecíamos estar em um set de filmagem, como em um filme a neve caia sobre nós num cenário encantador! 

Não tem como não se encantar, algo surreal para você que vê pela primeira vez o milagre da natureza. Ainda mais nós que viemos de um país nada frio!!! 

Foto: Lucas W. Mendes

A neve chegou trazendo alegria para todos, inclusive os holandeses, que saíram de suas casas e até mesmo mais cedo do trabalho para aproveitarem o momento e patinar com a família. 

Fomos surpreendidos ao chegar no dique e nos depararmos com centenas de holandeses brincando na neve e patinando as margens do rio Reno. 

Mais a alegria realmente não foi geral. O país praticamente parou por algumas horas. Trens quebraram, ônibus atrasaram e vôos foram cancelados. A alegria de alguns foi a desgraça de outros, que perderam compromissos, viagens ou não conseguiram chegar em casa tão cedo. A Holanda se mostrou um tanto desorganizada em se tratando de uma nevasca como essa. 

Mesmo assim... muita diversão no primeiro dia de muita neve! Compras, passeios diversão, não deixaram de acontecer para aqueles que enfrentaram o gelo e saíram pela cidade. 

A neve é linda, mas requer certos cuidados. A atenção é imprescindível para aqueles que precisam sair para o trabalho, compromissos ou diversão. É importante estar preparado para enfrentar os desafios de viver sob o gelo. Sapatos especiais, roupas adequadas e até mesmo o espírito paciente. 

Foto: Lucas W. Mendes

O transporte se torna mais lento em virtude dos perigos, por isso cuidado ao andar de bicicleta! A alegria pode se tornar em tristeza com os acidentes. Não deixe de sair de casa por causa do frio. Basta se preparar e curtir! 

Vale a pena cada minuto. Quando você andar na neve vai sentir-se como pisando em um monte de maizena! Sim, isso mesmo... é muito engraçado! O silêncio que impera na cidade quando esta nevando é único. A beleza dos detalhes formados pela neve nas árvores, carros, casas, etc... Ah!!! Não tem preço. 

Edilaine e Lucas

Não tenha medo. Encare a neve. Tire fotos, brinque, divirta-se! Depois corra pra casa se aquecer com água morna ou até mesmo com o secador de cabelo! Acredite, dói muito sentir os dedinhos congelando!!! 

A previsão é de que esse seja o inverno mais rigoroso dos últimos 30 anos! (http://glo.bo/y4N0VH). 

Bom, desde que você esteja disposto a buscar a felicidade em todos os lugares e momentos, será realmente inesquecível! Mais não deixe de se cuidar! 

Bom inverno holandês pra você! 



Edilaine P. Batista Mendes.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A complexa readaptação ao Brasil



Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
(...)

Estas estrofes iniciais da “Canção de Exílio” de Gonçalves Dias, assim com todo o poema original exemplificam o sentimento que se tem pela terra natal. Escrita em Coimbra no ano de 1843, cidade a qual tive a oportunidade de conhecer quando da minha visita a Portugal em novembro de 2011, remete-nos logo ao Brasil por ter dois versos citados no Hino Nacional - Nossos bosques têm mais vida/Nossa vida mais amores

Sim, o céu aparentemente tem mais estrelas e é imensamente mais azul, o verde é mais verde e o sol dá suas caras quase todos os dias, algo bem diferente dos dias cinzentos do norte Europeu. Afora as qualidades climáticas e aos vínculos afetivos e famíliares que fazem dos primeiros dias do retorno ao Brasil uma boa novidade, os dias subsequentes trarão uma inevitável crise de identidade, primeiro pela adaptação cultural ocorrida à cultura estrangeira, e no caso da Holanda este fator é mais profundo ainda, afinal trata-se de um país situado no topo dos melhores rankings de qualidade de vida e renda per capita no mundo, estando anos luz à frente dos baixíssimos índices que ainda mancham a economia brasileira, não importa quanto nosso PIB esteja nas alturas ou sejamos 6ª, 5ª ou até 4ª economia do mundo, ainda continuaremos um país pobre enquanto a desigualdade predominar e nossa infraestrutura permanecer precária em todos os segmentos.

Logo no desembarque no Aeroporto de Guarulhos, por onde chegam ao Brasil mais de 10 milhões de passageiros internacionais por ano (fonte: Infraero, 2010), é possível constatar que neste ritmo não estaremos preparados para eventos internacionais do nível de uma Copa do Mundo ou Jogos Olímpicos. Na verdade embarcar na Schiphol e desembarcar em Guarulhos é um choque de realidade, não apenas pela infraestrutura, mas pela qualificação da mão de obra, um fator visível e gritante aos olhos. A fragilidade do sistema aeroportuário está presente nos aeroportos Brasil afora, uns com maior ou menor grau problemas, mas em geral nenhum está devidamente preparado, porém há uns bem piores que os outros, como no caso do aeroporto de Internacional de Campo Grande, onde tentei me colocar na pele de um visitante estrangeiro, acostumado com as facilidades de transporte público e que não deseja submeter-se aos altos preços dos taxis, tentando encontrar um ônibus ou um simples “transfer” para chegar ao seu destino. Simplesmente não há opções, ou seja, vivemos no país da imobilidade urbana. 

Chocante mesmo é confrontar os preços de produtos que na Holanda custam 3,00€ e no Brasil podem alcançar até R$ 63,00, como no caso de um determinado chocolate belga que eu costumava comprar na loja Action. Mas não fica somente nisto, pois dado o aquecimento da economia local os preços foram às alturas, e isto vai desde os alimentos básicos ao vestuário. Se você está na Holanda neste momento e ainda tem alguma dúvida se compra alguma coisa ou não, não passe vontade, compre! Só para citar uma comparação, comprei na Media Market uma câmera fotográfica profissional por 389,00€ (R$ 975,00), o mesmo produto no Brasil não sai por menos de R$ 2.000,00. No Brasil, infelizmente, por mais que as pessoas estejam com um pouco mais de dinheiro no bolso, o acesso a determinados produtos ainda é restrito em função dos altos preços. A fragilidade dos serviços também é sentida, especialmente em relação à internet. Os 10 megas que pago no Brasil não são nem de perto os 10 megas eu tinha na Holanda, sem falar novamente nos preços, que já começam a se ajustar, mas a disparidade é evidente. 

O aspecto “qualificação” não só preocupa como é desolador, ficando claro o descaso de décadas com a educação em todos os níveis. De quem é a culpa? Nem tentarei responder, a história dirá. O que é preciso se ter em mente é que ainda há tempo para mudar, afinal, conforme recente pesquisa da Revista The Economist nosso sistema educacional evoluiu de “desastroso” para “muito ruim”(triste realidade), ou seja, é grave, mas ainda tem solução. Não faço coro ao pessimista que acreditam que não há soluções e que transformam as vitimas deste péssimo sistema em compulsórios culpados pelas oportunidades que nunca lhes foi dada. 

Na volta ao Brasil você também sentirá falta da comodidade que os trens trazem à vida do cidadão comum. Faço parte da última geração que teve a oportunidade de viajar no verdadeiro “Trem do Pantanal” e que se lembra muito bem do sucateamento e desmantelamento da RFFSA (Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima) e FEPASSA (Ferrovia Paulista SA) nos anos 80 e da privatização no inícios dos anos 90. Desta forma, uma decisão estratégica de caráter político-econômico ocorrido nos quartéis dos anos 70, optando-se pela malha rodoviária em detrimento da malha ferroviária, reflete diretamente na vida dos cidadãos brasileiros na segunda década dos anos 2000. 

A complexidade da adaptação se dá porque de alguma forma nos tornamos holandeses demais para os brasileiros, mas ainda muito brasileiros para os holandeses. Seus pais, parentes, amigos e colegas não entenderão, por mais que você tente explicar, não compreenderão as mudanças que ocorreram, por que você voltou tão crítico ou por que houve mudança em suas percepção sobre muitas coisas, ou sobre o mundo. Prepare-se para efeitos que esta experiência no exterior te trará, não que isto te transformará em uma entidade ultra-superior em relação àqueles que não tiveram a oportunidade que você está tendo, mas certamente você será visto com outros olhos, pois além do incremento em seu Currículo Lattes, haverá um incremento pessoal, algo que está além da educação formal, e o que mudou, ou mudará depende de cada um, trata-se de experiência individual, com respostas diversas, mas em algo há uma convergência, você jamais será o mesmo.