quarta-feira, 21 de março de 2012

Closing Time

Hora de fechar as portas, de compreender que tudo tem um ciclo de vida, com começo, meio e fim, e não adianta postergar, sempre é chegada a hora de um novo rumo, outros objetivos, e como diz a canção “Closing Time”, do Semisonic, todo novo começo vem do fim de um algum outro começo. 

Quando no final de 2010 fui selecionado para o doutorado sanduíche na Universidade de Wageningen, passei a coletar quaisquer informações possíveis sobre a Holanda, a cidade e a universidade, passando desde as documentações a aspectos culturais do país em que iria residir. Encontrei muita coisa, muitos blogs, muitos sites, entre eles um que é referência, o “Brasileiros na Holanda”, administrado por Márcia Curvo, a qual considero hoje uma grande amiga na Holanda. Porém, pouco encontrei de forma sistemática e sintética sobre Wageningen nos moldes em que precisava para me preparar para a viagem, a não ser os relatos da Carla Mello, do Blog “Carla na Holanda”, a qual não cheguei a conhecer pessoalmente, mesmo estando em Wageningen no mesmo período que ela. 

Decidi então criar e escrever meu próprio blog com algumas informações sobre Wageningen e sua Universidade, porém sem a pretensão de encerrar todos os assuntos, afinal, há muito o que se falar, assim fixei-me didaticamente nos principais pontos, desde o começo, passo a passo, de como chegar, instalar-me, residir e partir de Wageningen. E o meu período foi curto, 28/05/2011 a 28/11/2011, apenas seis meses, que hoje tenho certeza, deveriam ter sido 12 meses. Entretanto o que vale não é quantidade do que se vive, mas a intensidade, e estes meses foram intensos, alucinantes, marcantes e inesquecíveis em minha experiência estudantil, tratando-se de um momento que desejaria a todos os estudantes, em quaisquer níveis e em qualquer idade. Nada se compara à experiência de sair de seu confortável mundo e vê-lo como ele realmente é, por um outro ângulo, outros olhos. E olha que quando me refiro à palavra “mundo”, falo de todos os mundos, desde o acadêmico ao pessoal. 

Não conheci tantas pessoas quanto gostaria, não vistei todas as cidades e países que queria, acho até que estudei menos do que deveria. Em contrapartida isto dá um gosto de quero mais, de que o pós-doutorado está logo ali e que definitivamente deixo uma parte de mim na Holanda, dizendo um “até breve”, logo estarei por aí, encontrando os amigos ocasionalmente num canto qualquer da Hema, no Grote Markt ou no Albert Heijn (que todos reclamam do preço mas todo mundo compra lá). 

Quem já passou por Wageningen sabe que há uma simpática brasileira por lá, a mãe do Dudu, a Anabele, essa sim entende de holandeses e de Wageningen e é praticamente uma cicerone da brasileirada, a quem agradeço por fazer este importante papel agregador aos que chegam de pára-quedas na cidade. Quer encontrar mais brasileiros? Participe da lista_brwur@yahoogroups.com , estão todos lá. 

Agradeço também ao Rural Sociology Group (RSO) da Wageningen University (WUR), onde fui orientado por Jan Douwe van der Ploeg, um ícone vivo nos estudos de Sociologia Rural. Aos colegas, um abraço especial para Femke Hoesktra (Holanda) e Gina Vilarreal (México), as lideres dos doutorandos, abraço qual por meio delas estendo a todos os outros colegas. Sou grato também a Douwe Hoogland, meu anfitrião nos dias em que estive na Frísia, o qual considero um legítimo amigo holandês 

Chega de palavras, hora de escrever minha tese, vamos às imagens, na verdade um vídeo, onde eu e minha esposa Jackeline damos um até breve, e nele, nossos amigos e colaboradores deste blog, Andrea, Hudson, Lucas, Di e Marcela. Super abraço a todos.




quinta-feira, 15 de março de 2012

Estudando o Mundo: Um imenso programa de bolsas poderá impulsionar o crescimento econômico do Brasil

Foto: AFP
Fonte: The Economist

Vender as proezas tecnológicas e o crescente mercado de TI de seu país foi a agenda de negócios de Dilma Roussef na grande feira de Hannover em 5 de março. Mas a presidente do Brasil fez questão de posar para fotos com jovens compatriotas que no mês passado começaram a estudar em universidades alemãs sob seu novo programa governamental de bolsas de estudos, o “Ciência Sem Fronteiras”. 

Até o final de 2015 mais de 100.000 brasileiros, metade deles estudantes de graduação, outra metade estudantes de doutorado, passarão um ano ou mais no exterior nas melhores universidades ao redor do mundo estudando temas como biotecnologia, oceanografia e engenharia de petróleo, os quais o governo considera como essenciais para o futuro da nação. Isto irá custar 3 bilhões de reais (1,65 bilhões dólares), um quarto dos quais virá de empresas e do resto do contribuinte brasileiro. 

O “Ciência Sem Fronteiras” é mais ousada tentativa do Brasil de mover a engrenagem econômica. A tendência da taxa de crescimento do país, de 4 a 4,5%, é ligeiramente inferior à média latino-americana e muito mais lenta do que nos outros países do BRIC. As autoridades esperam que a melhoria da qualidade da força de trabalho poderá fazer uma grande diferença, mas levará algum tempo para surtir efeito. 

Os empregadores reclamam da dificuldade de encontrar pessoal bem qualificado, o desemprego está em um baixo registro, brasileiros com nível superior ganham 3,6 vezes mais do que de os com ensino médio; tais números não são vistos em nenhum país no âmbito da OCDE, o grupo de países mais ricos. Funcionários treinados em disciplinas de ciências e afins são particularmente escassos. Segundo o IPEA, muitos dos 30.000 engenheiros que o Brasil produz a cada ano vêm de instituições medíocres e que, de qualquer maneira, o país precisa de duas vezes esse número. As autoridades esperam que os estudantes voltem com novas idéias captadas no exterior e elevem os padrões nas universidades de origem também. 

Universidades e governos estrangeiros estão “saltitantes” com a chance de ensinar os alunos brasileiros. Os Estados Unidos já se inscreveram para levar 20.000, Grã-Bretanha, França, Alemanha e Itália terão de 6.000 a 10.000 cada. Os Retardatários já estão lutando para atrair o resto. Os brasileiros vão pagar taxas integrais e os países de acolhimento espiarão o retorno de longo prazo na construção de contatos mutuamente lucrativos, nos negócios, bem como na educação. 

"A escala e a velocidade deste programa são sem precedentes", diz Allan Goodman, do Instituto de Educação Internacional, um grupo sem fins lucrativos que gere o programa para universidades americanas. Ele está organizando colocações de três meses na indústria para todos os seus visitantes brasileiros. A Universidade de Edimburgo espera os seus primeiros alunos bolsistas brasileiros para setembro. Ela já tem ligações com a Petrobras, empresa de petróleo do Brasil controlada pelo Estado, e está abrindo um escritório regional em São Paulo, seu terceiro depois de Pequim e Mumbai, para aproveitar o que ele espera venha a ser um crescente número de alunos. 

Até agora, poucos brasileiros tem estudado no exterior. Os Estados Unidos são o destino mais popular, ainda no ano passado havia apenas cerca de 9.000 brasileiros em seus campi (excluindo estudantes da língua). Os contingentes chineses e indianos juntos chegaram a 260.000. Os brasileiros que têm diplomas estrangeiros tiveram uma influência desproporcional de volta para casa. Na década de 1960 e 1970 o governo pagou por doutores no exterior na exploração de petróleo, pesquisa agrícola e design de aeronaves. O Brasil é hoje líder mundial em todos os três campos.

Tradução: Márcio de Araújo Pereira

sexta-feira, 2 de março de 2012

Estudando no exterior, com filhos



Quando recebemos a notícia da aprovação do estágio pós doutoral em Wageningen, nossa filha Marcela estava completando três meses. No entanto tivemos mais três meses para preparar todos os detalhes financeiros, de documentação e principalmente psicológico para encarar um ano em um país totalmente diferente com o que estamos acostumados e somente “nós três” (ainda mais vindos de uma família bem grande). Neste período todos perguntavam como seria a adaptação da Marcela aqui e sempre respondíamos que seria a melhor possível, pois com apenas 6 meses, dali pra frente seria tudo normal para ela, já que não conhecia quase nada.


Preparadas as bagagens (duas malas de 32 kg) uma praticamente foi cheia de fraldas, pois não sabíamos o que ia acontecer... Foi a primeira vez que a Marcela viajou de avião e encarou uma viagem de 15 horas (pois ficamos 4 horas parados na pista do aeroporto de Guarulhos aguardando um “problema técnico” com bagagens).

Chegamos em Wageningen sem moradia definida (apesar de horas pesquisando alguma oportunidade pela internet) - aqui é muito difícil encontrar moradia quando se tem crianças, pois é uma cidade considerada para universitários e a maioria dos estudantes vem sozinhos ou, no máximo, em casal. Resolvemos ficar uns dias em um Hotel, onde na mesma semana da chegada fomos visitar um apartamento (que fizemos contato com uma imobiliária ainda no Brasil). Pura coincidência, mas o dono desse blog era o morador anterior do apartamento, e desde daí já nos deu a dica de “fecharmos” o contrato para um ano (até o final do estágio), ou seja, todo o período que ficaremos aqui. 


Devidamente instalados, deu início ao estágio da mamãe e o papai ficou com a Marcela em casa. Com o endereço definido tudo fica mais fácil - a Marcela recebeu mais correspondências que a gente. Foram pedidos de calendário de vacinação, convite para a primeira consulta, e o bom de tudo, de graça. No segundo mês que estávamos aqui a Marcela já recebeu sua primeira vacina européia (o calendário de vacinação é praticamente o mesmo do Brasil, apenas tem um acréscimo de uma vacina de pneumologia, perfeitamente compreensível devido ao clima). A cada dois meses são marcados appointments para uma avaliação médica periódica (seria tipo o SUS do Brasil). Mesmo com todo o cuidado foi inevitável o surgimento de um eczema na pele da Marcela, devido ao clima extremamente seco dentro de casa (por causa do sistema de calefação). Várias “b yhnb fzzfxzz Mn “ (esta parte foi escrita pela Marcela) foram as “extra” consultas (estas feitas pelo convênio, médico da família - huisarts), mas tudo que foi prescrito não adiantou, apenas quando foi encaminhada para um especialista, e usamos a pomada especifica para o tal eczema, tudo melhorou, e melhor ainda, toda medicação será reembolsada pelo convenio. 



Aqui a Marcela começou a engatinhar, andar, viu neve, comeu batata frita, fez aniversário de um aninho, e estamos planejando, em breve que ela frequente alguns dias na daycare (a creche daqui, subsidiada pelo governo) para se integrar com as crianças. Vimos por aqui outros casais que vieram com filhos mais velhos que a pequena Marcela e se adaptaram rapidamente (colocando seus filhos em creches e/ou escolas daqui). 



Devido ao orçamento restrito pelo elevado preço da moradia, ainda é possível realizar viagens, desde que bem planejadas, nada impede viajar com crianças, mas é preciso atentar-se na questão hospedagem, meio de transporte e aparatus necessários à pequena (visando seu bem estar durante a viagem). 

Após seis meses morando aqui podemos chegar a uma conclusão de que mesmo com filhos pequenos não existe motivo para desistir de uma oportunidade de morar em outro país, conviver com outra cultura, vivendo experiências únicas, e voltar para o Brasil com uma bagagem diferenciada por fazer um estágio no exterior.