quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Providências a tomar antes de deixar a Holanda


Como diria a canção Tocando em Frente, de Almir Sater e Renato Teixeira, um dia a gente chega, no outro vai embora, e não importa quanto tempo você esteja na Holanda, sejam seis meses, um ano, cinco ou até mesmo vinte anos, um dia, inevitavelmente você retornará ao Brasil (definitivamente ou não). 

Se você veio a estudos, especialmente como bolsista da CAPES, CNPQ, ou outra agência, há uma certeza, você tem data certa para retornar ao Brasil, e no caso da CAPES há ainda uma colher de chá, eles te dão 30 dias após o término do estágio ou período de estudos no exterior para retornar ao país (mas sem bolsa adicional no período). Possivelmente você se sacrificou para conseguir a bolsa, correu atrás de documentos, fez todos os testes, esperou uma eternidade para aprovação (o conceito de eternidade depende da compreensão de cada um) e para concessão de visto e enfim desembarcou na Schiphol com muita coisa na bagagem que você certamente se arrependeu de ter trazido (tipo de mico que todos passam). Mas além de tudo você trouxe a expectativa da experiência de vida em um outro país, de uma cultura bem diferente da brasileira, espero também que tenha trazido a curiosidade e o coração e mente abertos para viver uma etapa de sua vida. 

Se você estava em dia com a documentação, provavelmente não teve problemas na imigração, recebeu o carimbo e pronto, já estava na Holanda, sem saber direito onde ficava a estação de trem que te levaria ao seu destino final. Mas enfim deu tudo certo e você chegou, se cadastrou na prefeitura local, recebeu seu BSnumber, foi buscar seu cartão de Residence Permit (verblijfsdocument), abriu conta em banco, alugou seu apartamento, casa ou quarto, acessou os serviços das utilidades básicas, água, luz, gás, algumas vezes telefone, internet e até TV à cabo, se apresentou na universidade e tornou-se um brasileiro na Holanda (ufa...não exatamente na mesma ordem). Não foi fácil não é? Mas após tudo isto vem uma etapa crucial em sua estada na Holanda, a partida. Mais importante que saber chegar a algum lugar, é saber partir, pois da mesma forma que uma porta se abre, ela pode se fechar para sempre, por isto muito cuidado ao deixar a Holanda, afinal, até aqui você cumpriu todas as regras e não é na partida que você vai pisar na bola. Então vamos por partes, como dizia um médico legista amigo meu: 

Desregistro: Da mesma forma que você efetuou o GBA (Gemeentelijke Basisadministratie Persoonsgegevens), aquele registro na prefeitura, é obrigatório o desregistro,ou seja, é preciso comunicar à municipalidade local que você está partindo, e isto pode ser duas formas, a) pessoalmente (recomendável): munido de seu passaporte e dos passaportes de sua família se for o caso (apenas um representante da família é suficiente para o processo) você se dirige ao mesmo local que se registrou e comunica que está deixando a Holanda, recebendo para tanto o Extract 60 (Uittreksel 60), que é seu comprovante necessário para o cancelamento de alguns serviços (caso você tenha contratado); b) Por escrito: Escreva uma carta a municipalidade declarando seu endereço atual, detalhes dos membros de sua família e data prevista de partida acompanhado de cópias dos passaportes, não se esquecendo de solicitar o Extract 60 (Uittreksel 60). É recomendável que estes procedimentos sejam feitos no máximo até 5 dias úteis antes da partida para evitar imprevistos de última hora. 

Encerramento de conta corrente: Feche sua conta corrente, não vale o risco deixá-la aberta, mesmo sabendo que você um dia retornará à Holanda para fazer um pós-doutorado ou algo semelhante. Para fechar sua conta sem problemas basta que tenha saldo zero, ou seja, não importa como, vai ter de aparecer 0,00 no seu extrato. No mais, leve seu passaporte ao banco e em 5 minutos sua conta estará fechada, mas não quebre ou jogue fora seu cartão, ele contém informações bancárias e pessoais no chip e poderá ser reativado no prazo de até 5 anos. Se você caiu na onda do banco e pegou um cartão de crédito, cancele-o e PAGUE imediatamente o débito. 

Contrato de aluguel: Verifique com atenção o período do contrato de seu aluguel, sendo por um período específico (6 meses, 1 ano, etc) e que você cumprirá este período integralmente no imóvel, não há problema, mas caso deseje sair antes do período contratado, invoque a “cláusula diplomática”, que permite que você rompa um contrato em caso de mudança para um destino de acima de 75 Km do atual (O Brasil fica bem mais longe que isto). Caso seu contrato seja por período indeterminado, notifique o locatário por escrito nos termos predefinidos (aviso de um a dois meses de antecedência). Em quaisquer hipóteses sempre faça tudo por escrito, valendo neste caso as cópias digitais enviadas por email. Nem preciso dizer que é preciso ter zelo pelo bem locado, afinal haverá uma vistoria final e se houver qualquer problema, pode ter certeza que será descontado depósito feito no ato da assinatura do contrato. Tenha extremo cuidado com uso de água, luz e gás dentro dos limites contratuais, caso estejam inclusos, pois também podem ser deduzidos do depósito. 

Utilidades e telecomunicação: Pelo menos 15 dias antes de sua partida, comunique à empresa provedora dos serviços de fornecimento de água, energia e gás que você está deixando a Holanda, seja por escrito ou por telefone. Para os serviços de telefonia fixa o indicado é que você solicite a suspensão com pelo menos 30 dias de antecedência, já para celulares (telemóveis) pós-pagos é preciso cuidado, especialmente se você assinou um contrato de um ou dois anos, e não adianta querer dar uma de esperto e querer levar o telefone e deixar a conta (dor de cabeça na certa). Para cancelamentos definitivos, comunique por escrito à empresa sua intenção com pelo menos 90 dias de antecedência e prepara-se para eventuais taxas de cancelamento em relação à duração do contrato (caso esteja vigente). O mesmo vale também para a TV a cabo e a internet, basta notificar a empresa com certa antecedência especificando a data de partida para a referente suspensão dos serviços. 

Roupas, mobílias e objetos: Lembra-se daquelas roupas e objetos “fundamentais” que você teimosamente fez caber para entrar na mala ainda no Brasil? Pois é, provavelmente nada disto voltará e você terá de encontrar solução, seja doando, vendendo ou descartando caso já seja impróprio para uso. Para doações basta pesquisar em sua cidade, há sempre organizações que recebem roupas em boas condições para revenderem nas seconds hands e assim revertem o dinheiro para assistenciais mundo afora. Em caso de dúvidas, procure na lista telefônica um Kringloopwinkel mais próximo de sua residência. 

Haverá muitas coisas para fazer e nem pense em “brasileiramente” deixar tudo para a última hora, muito menos ouse perder o vôo de volta para o Brasil em decorrência de mal planejamento no dia da viagem, o custo financeiro é muito alto. Planeje chegar à Schiphol com pelo menos 2 horas de antecedência para cumprir todas as etapas do embarque com certa tranqüilidade, afinal há o check-in, imigração e a revista habitual antes de adentrar ao portão de embarque. Sobre as bagagens é preciso estar atento para o limite contratado, normalmente duas malas que somadas não ultrapassem 32kg mais uma bagagem de mão de até 10Kg, porém no check-in as atendentes sempre insistem em cobrar o excesso alegando que as Leis na Holanda são diferentes; bobagem, leve o comprovante de compra do bilhete e NÃO pague nenhum adicional caso você esteja dentro dos 32kg. Se quiser levar mais bagagens e quiser pagar por isto, tudo bem, mas informe-se no site de sua empresa aérea para evitar surpresas. Como chegar a Schiphol? Bom, se você não sabe até agora, é porque sinceramente você não viveu na Holanda, mas para os que não estão afim de encarar o trem e tem aquele monte de bagagens, sempre há aquele taxi salvador que cobra uma fortuna como em qualquer lugar no mundo. 

O recado está dado, faça seu dever de casa e não deixe rastros desnecessários que possam impedir seu retorno à Holanda ou a Europa, afinal todo bom convidado deve saber como se despedir de seu anfitrião com um bom adeus ou quem sabe um até breve. 

Ps: Sabe aquele cartão de Residence Permit (verblijfsdocument)? Não é preciso entrega-lo em Den Bosch, se quiser há como entrega-lo na Schiphol.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A chegada do Sinterklaas em Wageningen



No dia 12 de novembro, um sábado, o Sinterklaas chegou em Wageningen navegando pelo Rio Reno, desembarcando no Porto da cidade acompanhado de seu ajudante, o Zwates Piet. Antes que alguém me pergunte, o Sinterklaas nada mais é do que o São Nicolau de Mira, transformado em Papai Noel no Brasil e Papa Natal em Portugal, nascido em Petara (Turquia) por volta do ano 271 e falecido em 6 de dezembro no ano de 342 ou 343. Para não criar ainda mais confusão, nem vou entrar na discussão dos elementos considerados pagãos integrados da mitologia nórdica (centrada na figura de Odin) 

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

Arquivo Pessoal
Foi uma experiência única, parecia que toda a cidade estava lá para receber o tal do bom velhinho (ou qualquer coisa parecida), especialmente as crianças, ansiosas pela chegada. E logo lá estava ele, mas fez um pouco de charme e suspense dando umas voltas de barco até enfim desembarcar e trazer consigo seu ajudantes. A chegada de barco é uma clara alusão ao fato de São Nicolau ser o patrono dos marinheiros na Espanha, logo também adotado pelos holandeses. Já seus ajudantes são um capítulo a parte e sinceramente eu não estava preparado para ver holandeses de olhos verdes ou azuis com seus rostos e peles pintados de carvão sem que houvesse uma explicação histórica lógica para isto. Diz a lenda que o bondoso São Nicolau libertara um garoto etíope da escravidão no comércio de Mira, o qual teria ficado tão agradecido, mas tão agradecido que decidira por conta própria ficar com Nicolau como seu ajudante pelo resto de sua vida, ou seja, escravo por opção. Alguns também apontam para a influência nórdica em referência aos dois corvos que seriam os informantes de Odin, ou ainda uma referencia ao “senhor negro da noite” que teria ajudado o Deus nórdico a vencer o mau. De qualquer forma, para suavizar um pouco esta história de que o bom velhinho teria ajudantes etíopes que trabalhariam por toda uma vida de graça para ele e sem direito a contrato de trabalho como manda a lei holandesa. A versão atual disseminada para as crianças é que os ajudantes se sujam de carvão quando entram pela chaminé para entregar os presentes.

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal
A festa é bonita, o Sinterklaas desembarca com pompas, com direito a banda de música e tudo. Ao mesmo tempo os ajudantes entregam os “strooigoeds” (doces) às crianças, o que faz a alegria geral, até com adultos entrando na disputa pelos doces. É praxe também que a comitiva do Sinterklaas siga uma rota pré-estabelecida até um local (normalmente a própria prefeitura) onde o prefeito da cidade (burgemeester) oferece as chaves da municipalidade. Wageningen não fugiu a regra e a caravana do Sinterklaas seguiu direto para a Grote Kerk para o tão esperado momento. 






Arquivo pessoal




Arquivo pessoal
A dinâmica do natal aqui na Holanda é diferente a do Brasil, especialmente por ser no dia 05 de dezembro a data em que as crianças receberão seus presentes, contanto que elas deixem cenouras em seus sapatos como um agrado ao cavalo branco que traz São Nicolau e em retorno elas ganham os presentes. A grande vantagem disto, pelo menos da minha interpretação, é a separação das festividades relativas ao dia de São Nicolau e do Natal, que é tratado efetivamente como uma celebração cristã nos dias 25 e 26 de dezembro (primeiro e segundo dia de natal). 


Arquivo pessoal
Uma informação que não pode ser passar despercebida é a facilidade encontrada para se adquirir enfeites de natal, com grande variedade e especialmente preços acessíveis a todos. É muito fácil, com muito pouco, montar árvores de natal de todos os tamanhos (e não apenas minúsculas a preços exorbitantes como no Brasil) e uma imensurável gama de enfeites que realmente dão o tom da celebração por aqui. 

Arquivo pessoal

domingo, 30 de outubro de 2011

Conhecendo a Europa a partir de Wageningen


Não se pode dizer que a cidade holandesa de Wageningen está bem localizada na Europa e oferece acesso fácil a todas as principais cidades europeias. Ainda assim, em termos de mobilidade e distância entre as cidades, há diferenças gritantes em relação ao Brasil, mas eu diria também em relação a Portugal no que tange a extensão da malha ferroviária (comboios). Wageningen não tem estação própria, apenas divide o nome com a Estação Ede-Wageningen localizada no município de Ede (10km), mas com fácil acesso por meio dos ônibus da Connexxion a partir Estação Wageningen, quem fica bem no centro da cidade. 

Inicialmente vamos responder àquela velha questão: Qual a forma mais barata de viajar pela Europa? Simples, de ônibus (autocarro). Isto mesmo, tal como estamos acostumados no Brasil, mas com uma diferença significativa, a qualidade das estradas. Por isto, se você é bolsista e quer economizar muitos euros, tiver paciência e souber aproveitar os finais de semana, as folgas e os feriados (raros na Holanda), a melhor e primeira opção é viajar de ônibus mesmo. Como fazer isto? Visite o site da Eurolines e veja os destinos possíveis, preferencialmente a partir de Utrecht ou Arnhem, dependendo do destino. Novamente mais um problema em Wageningen, não há partidas de ônibus da Eurolines, apenas conexões regionais que levam às cidades vizinhas (Arnhem, Utrecht, Veenendaal, Tiel, Ede). Em relação aos preços, para fins de exemplo, uma passagem de ônibus a partir de Utrecht para Paris pode custar 28 euros ida e volta, ou seja, considerando a passagem de ônibus Wageningen-Utrecht, 5,40 ida e volta, o gasto total de uma viagem para Paris será de 33,40 euros por pessoa; para Londres, também a partir de utrecht, ida e volta, 31 euros (+ 5,40, total 36,40 euros). 

Para viagens dentro da Holanda, para destinos como Amsterdam, Haia (Den Haag), Rotterdam, Delf, Maastrich, etc, a melhor opção mesmo é viajar de trem, especialmente para os que fizerem o cartão da NS, que pode dar até 40% de desconto em viagens dentro da Holanda e 15% em outros países (a verificar em cada caso). Para verificar os horários, tempo de viagem e valores basta visitar o site da NSTendo Amsterdam como exemplo, uma passagem ida e volta pode custar de 15 a 25 euros ida e volta, dependendo dos descontos. Mas atenção! Há condições especiais para usufruir dos descontos, e nem adianta bancar o esperto e tentar comprar com descontos sem o cartão, pois já vi gente ser convidada a se retirar do trem ou pagar altas multas pelo não cumprimento das regras; neste caso a esperteza sai bem cara. 

De trem também se é possível viajar para outros países, e para este fim o site indicado é o NShispeed, onde com antecedência se é possível comprar passagens também a preços módicos, como por exemplo o trajeto Ede-Wageningen – Bruxelas, que pode sair até por 29 euros ida e volta. Bruxelas, aliás, é um bom roteiro por se tratar de uma viagem que pode ser feita em um ou dois dias, assim como Colônia na Alemanha, que está a apenas duas horas de Wageningen e na promoção chega a custar 30 euros por pessoa ida e volta. Viagens para cidades como Paris, Londres e Berlim já começam a apresentar preços mais salgados quando feitas de trem, assim é preciso mensurar a relação custo-benefício-tempo de viagem, para definir qual a melhor formar de viajar. Contudo, com uma boa antecedência de compra (2 meses), uma viagem de Ede-Wageningen para Londres pode sair até por 99 euros. Não custa lembrar que todos os valores acima referem-se a tickets na segunda classe, mas se o viajante quiser mais comodidade, pode pagar um pouco a mais para não correr o risco de viajar em pé. Como?! Em Pé? Isto mesmo, a segunda classe aqui é lotada e não tem lugar reservado, especialmente em dias úteis, assim prepare-se para a possibilidade de viajar em pé ou sentado nas escadarias. 

Mas dependendo do destino, uma viagem de ônibus ou de trem pode ser muito cansativa ou requererá muito tempo e paciência. Para estes casos vale a pena considerar as viagens aéreas, especialmente nas chamadas low costs, que apresentam excelentes preços, mas requerem um cuidado extremo com as “entrelinhas” para não se pagar além do previsto. Neste item a primeira Cia aérea que vem à mente e ao bolso é Ryanair, onde se é possível adquirir passagens por menos de 10 euros por trecho (compradas com muita antecedência). Porém a Ryanair tem suas regras consideradas extremistas, se você sair da linha, excedendo os limites da bagagem de mão ou simplesmente não imprimindo seu e-ticket, pode perder de 40 a 60 euros num piscar de olhos. O segredo de viajar numa low cost é seguir as regras do jogo e parar de pensar que para tudo tem jeitinho. Tudo que sai da regra para eles é lucro. A Ryanair não é nada mais do um ônibus que voa, com o agravante que não há numeração nas poltronas – entrou, corra e pegue seu lugar. Outra coisa, se quiser algo dentro do avião, pague! Vale observar que para embarcar pela Ryanair é preciso ir a Eindhoven (30 euros ida e volta a partir de Ede-Wageningen). 

Mas nem só de Ryaniar vivem as low costs, segue uma relação das principais empresas na Europa, com atenção especial para holandesa Transavia (que segundo dizem é patrocinada pela KLM) onde os preços são um pouco mais altos, mas há várias possibilidades de pagamento, inclusive via iDeal (pagamento online). Pessoalmente dou preferência aos vôos a partir da Schiphol - Aeroporto de Amsterdam que é considerado o melhor do mundo (27 euros ida e volta da Estação Ede-Wagenigen), mas deve-se analisar caso a caso. 





Para alem das low costs há as grandes e tradicionais empresas aéreas do setor, dentre elas a KLM – Royal Ducht Airlines, a qual dou preferência em minhas viagens por ser uma empresa local que dependendo da antecedência da compra oferece bom descontos, com preços a partir de 99 euros ida e volta para destinos como Roma, Paris, Milão Barcelona, Berlim, ou seja, quase o mesmo preço das low costs mas com serviços e comodidade superiores. No site da Agência Schiphol também se é possível consultar e até  adquirir passagens para vários destinos. 

Caso você não queira esquentar a cabeça, há os pacotes oferecidos pelas agências de viagens, em Wageningen especificamente há duas fortes no setor na Holanda, a Arke e a D-reizen, sendo que pode-se ir direto às lojas físicas (ambas ficam na Hoogstraat 101 e 55 respectivamente) ou visitar os sites, onde há uma infinidade de pacotes que incluem hotéis, transporte, city tour, etc. Novamente cuidado, pacote é pacote, sabe-se lá a qualidade e localização do hotel, sem falar que nas excussões de ônibus, por exemplo, todos serviços são voltados para holandeses, ou seja, com guia turístico holandês, com informações eminentemente em holandês. Para fins informativos, uma excussão de ônibus para Paris por 3 dias (chegada à noite + um dia inteiro + retorno pela manhã), incluindo o hotel e city tour, sai por 99 euros por pessoa. O "porém" neste exemplo está no hotel, que fica no anel rodoviário de Paris, e na próxima linha de metro, que fica a 20 minutos caminhando. Eis que vale novamente a lei do bom senso, vale a pena? Sim, mas o importante é ter sempre todas estas informações claras para evitar frustrações.

A decisão de viagem é um ato pessoal e diretamente ligado ao bolso de cada um. Todos sabemos onde mais aperta o calo e não adiantar querer apertar mais do que se pode aguentar, assim planeje-se, escolha bem destino, calcule bem, incluindo em sua planilha os os traslados ida e volta do aeroporto,estação de trem ou de ônibus. Nunca, eu digo NUNCA, faça uma viagem sem ter pesquisado a fundo para onde vai, com informação sobre transportes públicos, localização do hotel ou local de acomodação, dicas de refeição barata, atrações turísticas, entres outras. Ainda assim, com todo planejamento, alguma coisa sairá do lugar, eis que é preciso estar preparado para imprevistos, e neste caso, tenha sempre alternativas à mão, pois de qualquer forma você estará em outro país além da Holanda (seu lar agora). 

Boa viagem! 

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Finanças pessoais no exterior, um choque de realidade



Este é um tópico sério, e diria vital para quem vai morar exterior, especialmente para estudantes que precisam ter a mente tranquila e centrada para aproveitar melhor a oportunidade de ampliar conhecimentos. Uma mente apreensiva com o descontrole financeiro dificilmente terá um nível satisfatório de aproveitamento requerido numa universidade no exterior, perdendo facilmente o foco e desviando suas atenções para fatores que não pertencem aos objetivos do estágio. 

Sendo bem prático, direto e sem ilusões, as bolsas concedidas pela CAPES, no valor de 1.300 euros para doutorandos e 2.000 euros para pós-doutorandos, atendem minimamente as necessidades básicas de sobrevivência de um estudante ou profissional em outro país e podem apresentar um maior ou menor poder aquisitivo dependendo do país. Falando especificamente da Holanda, o próprio Ministério dos Assuntos Sociais e Emprego (Ministerie van Sociale Zaken en Werkgelegenheid) local reconhece que o custo de vida é em dos mais altos na União Europeia ao fazer uma comparação com as condições salariais de cidadãos portugueses que desejam trabalhar no país (manual em português: Trabalhar na Holanda). Para que se tenha uma ideia mais clara, o salário mínimo holandês (para maiores de 23 anos) vigente desde janeiro de 2011 é de 1.424,40 euros, em Portugal é 485 euros e no Brasil em torno de 230 euros. Exemplificando, o bolsista em estágio terá de se adaptar e viver na Holanda com um valor abaixo do mínimo pago a um cidadão nativo (desconsiderando-se os impostos) e sem os benefícios oferecidos pela Rainha Beatriz (Beatrix Wilhelmina Armgard, Rainha da Holanda), que na verdade é uma grande mãezona que carrega os cidadãos no colo com um amplo aparato de bem estar social. Segue tabela com os salário mínimos holandeses (por faixa de idade):

Fonte: Ministério dos Assuntos Sociais e Emprego da Holanda, 2011
Agora vamos aos cálculos tendo como uma bolsa de 1.300 euros concedida pela CAPES, valor este que é depositado trimestralmente em conta corrente em aberta em território holandês, resta lembrar que os valores do auxílio instalação, 110 euros/mês, e seguro saúde, 70 euros/mês, são depositados em conta corrente no Brasil aproximadamente 10 dias antes do embarque. Um bolsista que terá seis meses de estágio, por exemplo, desembarcará na Holanda com 1.080 euros no bolso (caso o bolsista não tenha reservas financeiras). Aconselho a NÃO confiar que este valor será suficiente, pois não será, até porque deve se estar preparado para imprevistos, incluindo complicações na hora da abertura da conta corrente, o que poderá ocasionar atrasos nos primeiros depósitos. 

Grande parte da complicação e dos gastos está no aluguel, que consumirá boa parte da bolsa, especialmente para casais, onde um quarto oferecido pela Idealis ou pela INfacilities (empresas que tem convênios com a WUR - Wageningen University) pode variar de 475 a 600 euros em média. Já para os solteiros o valor é menos salgado e gira em torno de 350 euros por um quarto. Fora das opções oferecidas pelas conveniadas da WUR, há o mercado privado, onde se é possível encontrar apartamentos completos e mobiliados de diversos padrões que facilmente ultrapassarão a casa dos 1.000 euros mensais, algumas vezes incluindo gás, água e luz (com alguma sorte TV e internet). Falando nisto, reserve valores também para o rateio destas utilidades (gás, água, luz), dependendo do tipo de moradia, lembrando que na Holanda não há leitura do consumo (as empresas apenas calculam uma média de consumo de padrão). Por experiência própria, deve se estar preparado para 80 a 100 euros por pessoa no consumo, dependendo do período do ano (nos meses mais frios o consumo de gás aumenta em função da manutenção da temperatura interna dos imóveis). 

No supermercado os gastos serão variados, eminentemente para a alimentação, mas deve-se contabilizar também os materiais de limpeza e de higiene pessoal. Neste caso vale muito considerar o perfil do consumidor, em qual supermercado se faz as compras e a adaptação aos hábitos alimentares locais. E não adianta fazer cara feia, a alimentação terá de ser adaptada conforme os produtos disponíveis, e sem essa de não “como aquilo”, não “como isto”, não “gosto daquilo”, geralmente as pessoas mais inflexíveis são as que mais sofrem no exterior. Esqueci dos valores? Calma, um casal controlado consegue não ultrapassar a marca dos 250 euros mensais (no máximo 300 euros), mas logo aviso, o gasto maior é no primeiro mês, onde logicamente gasta-se bem mais em função dos ajustes e testes de consumo. Para os solteiros, não vejo razão para gastar mais do que 200 euros por mês no supermercado (e com muita folga).

Alimentar-se fora de casa não é proibido, mas deve ser regulado com muita sabedoria, pois uma refeição "de nada" na cantina da universidade, em geral sanduíches, saladas e sucos, pode atingir facilmente o valor de 5 euros, e assim, de 5 em 5 euros lá se vai sua rica bolsa. Sabe aquele hábito freqüente de sair para jantar, almoçar, lanchar? Esqueça, este mundo não pertence a um bolsista. Quer dizer que está proibido? Lógico que não, mas refeições fora de casa aqui na Holanda tem seu preço e tais “extravagâncias" devem ser reservadas a momentos que realmente valham a pena. Sair para beber com os amigos? Ok, tá valendo, cerveja aqui é quase de graça, especialmente nos supermercados. Considero 50 euros por mês suficientes para ficarem reservados no Chipknip para eventuais refeições na universidade, já para as saídas com os amigos, aí depende de cada um. 

Bom, lembra-se daqueles 1.300 euros por mês? Pois é, não são mais, agora são 600 euros para os solteiros (350+100+200+50) e 300 euros para os casais (500+200+250+50), isto sem computar os 48 euros do seguro de saúde que você inteligentemente se resguardou ao depositar aqueles 420 euros reservados para os descontos em conta corrente para seguradora. Alguém deve estar perguntando, “mas e as despesas com transporte?” Esqueça, compre uma bicicleta e reserve uns euros para eventualidades, pois ninguém merece pagar 3,20 euros por dia para ir e voltar da universidade “só para não cansar muito”. 

Fora tudo isto é preciso pensar na aquisição de livros importantíssimos para sua pesquisa e que dificilmente você encontraria dando bola numa prateleira no Brasil. Lembra–se daqueles livros que demoram uma eternidade para chegar quando comprados na Amazon no Brasil? Pois é, aqui chegam mais rápido e podem ser mais baratos. Mas tem uma outra forma de adquiri-los de forma mais rápida ainda, via site Bol.com, que é excelente e aceita pagamento online via iDEAL, debitado diretamente em sua conta corrente. Também reserve um valor para o vestuário para enfrentar o frio holandês, pois por mais que sua avó tenha sido gentil em tricotar um cachecol para você não passar frio por aqui (que fofo), sinto muito, quase nada do que você tenha trazido do Brasil sequer vai aguentar o primeiro ventinho do outono nesta região do planeta. 

Peraí? Mas e as viagens, tipo Paris, Londres, Barcelona, Roma, Berlim? Pois é, vai depender do seu perfil de controle financeiro, das suas economias e dos contatos e amigos que você tem mundo afora, porque senão adeus tranqüilidade financeira. Vale sempre lembrar qual o propósito da bolsa, e com certeza não é para fazer turismo, senão ela não seria tão estreitamente calculada. Mas ninguém é de ferro e você terá oportunidades de fazer algumas viagens (mas não todas), especialmente relacionadas com sua temática de pesquisa, as quais podem até ser financiadas pelo grupo de pesquisa a que você estive associado. Assim, tenha paciência, calcule bem e não meta os pés pelas mãos, pois aqui não há aquele “crédito pronto” liberado imediatamente em conta corrente na hora do aperto. Ou você se organiza, ou vai ter dor de cabeça. 

Este é um dos tópicos mais longos que escrevo, mas por um motivo justo, o ALERTA. É preciso ter em mente que a desorganização financeira pode transformar o que seria uma oportunidade de aprendizado num fatídico pesadelo. Caso você tenha outras fontes de renda, que não aquelas conflitantes com a bolsa, ótimo, você vai aproveitar melhor ainda seu estágio e ampliar seu leque cultural com destinos interessantes nos ses dias de folga. Porém, caso dependa somente da bolsa, não vale o risco, seu lucro já está em receber uma grande oportunidade de intercâmbio profissional em uma das 75 melhores universidades do mundo conforme o ranking da Times High Education 2011-2012. Este é o atual estágio da Wageningen University and Research Center, quer experiência melhor do que esta? 

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Clima e temperatura em Wageningen

Arquivo pessoal: pôr-do-sol em Wageningen às 22h30

No território holandês predomina o chamado vento sudoeste, que provoca um clima marítimo moderado, caracterizado por verões não quentes, mas suaves, (média de 23°C) e invernos muito frios, mas não muito intensos (média de 0° C). As precipitações (aquilo que os meteorologistas chamam de chuva, granizo e até neve) apresentam uma média de 70mm mensais, com menores variações na primavera (45mm em média). Bom, quer saber? Isto é o que dizem os meteorologistas, prefiro trazer um relato próprio sobre o clima na Holanda e especificamente em Wageningen. 

Na verdade a Holanda tem quatro estações bem definidas, “frio”, “mais frio”, “mais frio ainda” e “congelante”. Em geral na Holanda chove quase todo dia, porém para meu desespero em Wageningen normalmente chove num dia, no outro também. Trata-se de uma cidade que tem uma relação íntima com a chuva, quando acontecem períodos como o que estão ocorrendo neste início da estação “mais frio ainda” (também conhecida como outono), onde há quase uma semana não chove e o sol aparece todos os dias, até o holandês mais agnóstico começa achar que Deus existe. 

Se o tempo na Holanda é maluco, em Wageningen é sequelado, pois um dia pode começar com sol e agradável, ainda pela manhã chover, no começo da tarde esfriar, chover de novo e no fim da tarde abrir aquele sol. Para mim, em termos de clima, a melhor parte do dia em Wageningen é a noite, especialmente na estação do “frio” (aquilo que os holandeses chamam de verão), quando o sol se põe por volta das 22h30. Sim, eu não sei por que, ou como, quase sempre ao final da tarde o tempo abre e ao menos por alguns minutos nos faz lembrar que o sol existe. Contudo não há escapatória, quem vem morar em Wageningen deve estar preparado para encarar longas pedaladas na bicicleta sob congelantes ventos e gotas de chuva. Assim, capas e guarda-chuvas são itens obrigatórios em que qualquer estação do ano. 

Voltando ao meu lado meteorologista, a figura 01 apresenta as médias de temperatura e precipitações em Wageningen. Note que em geral as médias de chuvas variam de 132mm a 231mm, ou seja, o mês que chove menos por aqui equivale ao mais chuvoso mês de uma cidade como Porto Alegre, que até então eu considerava uma cidade úmida. Falando em umidade, quando ela chega a 40% já tem holandês passando mal nas ruas. 

Figura 01 - Temperatura e chuva em Wageningen
Fonte: World66 Travel Guide

Não falarei sobre a estação “congelante” (vulgo inverno) pois ainda estamos no “mais frio ainda” (vulgo outono) e ainda não experimentei esta parte do clima. Entretanto já comecei a ficar com medo pelo nível das roupas de frio que começaram a ser vendidas nas lojas; se vier o inverno ( que dizer, “congelante”) que eles estão esperando, estou perdido. Assim, meu amigo, minha amiga, prepare-se para agüentar as baixas temperaturas (fez -11°C no último inverno, quer dizer, “congelante”), ainda que os sistemas de calefação das casas e dos ambientes de trabalho, ou mesmo nas lojas, sejam eficientes e podem trazer a sensação de uma percepção menor do frio. 

Com toda esta confusão meteorológica fica claro que não dá para sair de casa sem olhar a previsão do tempo, segue então uma lista dos principais sites que o manterão informado sobre o tempo em Wageningen. Mas cuidado, olhe mais de uma vez ao dia, pode haver mudanças repentinas: WeatherBug, AccuWeater, Meteox, WeatherForecast , Foreca

O verão (vulgo frio) passou por aqui e eu nem vi, para não dizer que não fez calor teve um dia, um único dia, em que me lembro de beirarmos os 30° C. Foi um dia tão bom, mas tão bom, que não valia a pena desperdiçá-lo em Wageningen, fomos eu e minha esposa para Amsterdam.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Cortando e cuidando dos cabelos na Holanda


Segundo o Instituto Euromonitor International o Brasil ocupa a 3ª posição no mundo no consumo de produtos de beleza, apresentando um aumento 26% nas vendas de 2009 a 2010. Esta pesquisa só vem a confirmar algo que já sabíamos, o brasileiro é vaidoso, mais agora com dinheiro no bolso. Em relação aos serviços, o aumento de 78% dos Salões de beleza em 5 anos (550.590 no pais) e o aumento de 64% de trabalhadores no setor, incluindo cursos superiores de formação especifica de cabeleireiros e esteticistas, demonstram o peso da exigência do consumido brasileiro (fonte: Anabel e Beauty fair). 

Sendo assim, saindo do economês e partindo para a prática do dia-a-dia, o que pretendo dizer é que ao vir à Holanda, uma hora ou outra você precisará adquirir de produtos relacionados à beleza e finalmente de um cabeleireiro. Para os homens a situação é mais simples, basta comprar uma máquina e mandar ver no cabelo (a minha custou 32 euros), mas quem não estiver afim de praticar o auto corte, vá em frente, escolha um bom KapperSalon (Salão de cabeleireiros) e pague a bagatela de 14 a 28 euros em média (R$ 35 a R$ 70) por um simples corte de cabelo masculino. Tem preços mais baratos? Tem sim, no mural da universidade vi um anúncio de um acadêmico oferecendo os serviços para corte à máquina por 5 euros (alguém se arrisca?). O lado bom também para os homens é poder comprar o kit para fazer a barba a preços mais convidativos que no Brasil (barbeador, espuma, loção, etc) bem como bons perfumes de marcas famosas. 

Porém para as mulheres o problema é bem mais grave, primeiro, por ter de tentar traduzir todos os produtos básicos do Holandês para o português. Certa vez, por exemplo, minha esposa conversou com uma brasileira que estava há um mês na Holanda e não conseguia tirar o esmalte das unhas por não conseguir identificar o que era acetona ou não nas lojas (vai a dica: aceton ou nagelak remover). O segundo e imutável problema relaciona-se com os péssimos serviços oferecidos pelos cabeleireiros e cabeleireiras da Holanda, simplesmente assustadores. Sinceramente, não conhecemos nenhuma brasileira que tenha entrado em um salão de beleza holandês e tenha saído sem vontade de pular de uma ponte (na Holanda não faltam opções de pontes). 

Desta forma, após ouvir diversas especialistas no assunto, inclusive minha esposa (Jackeline Espíndola) que me ajuda a escrever sobre este assunto tão delicado chamado “beleza”, desaconselho a procurar um salão de beleza holandês (a não ser em caso de extrema necessidade). Quer dizer que não há solução? Lógico quem tem, pode-se seguir o caminho do "faça você mesmo" (tintura, auto corte, etc), ou buscar profissionais brasileiros na Holanda que suprem com louvor esta grave lacuna, basta procurar por eles na internet (o site Brasileiros na Holanda, referência na comunidade brasileira na Holanda, tem vários anúncios). Mas em Wageningen infelizmente não identificamos nenhum profissional que pudesse acudir os cabelos de minha esposa que perduravam um longo tempo sem o tratamento profissional. Há profissionais em Ede e Utrecht, porém como esse negócio funciona por meio de indicações, a Jackeline resolveu aproveitar uma de nossas viagens à Amsterdam e visitar um excelente profissional chamado Mazinho (Mazinho's Hair), um carioca que vive há 20 anos na Holanda e conquistou seu espaço no mercado (indicação de Márcia Curvo, criadora do site Brasileiros na Holanda). 

Mazinho e Jackeline 
Jackeline na Rua das Flores em Amsterdam


















Cada um atribui um peso ao fator “cuidados pessoais” e a escolha sobre qual caminho seguir é individual, ainda mais se tais escolhas estão relacionadas à adaptação ao contexto de um outro país. Segundo seu perfil, determine seus limites e metas, o que está em seu topo de necessidades ou não, tome suas decisões, mas não diga que não avisei.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Assistência médica e farmácias


Saúde é coisa séria, tudo mundo sabe, e está no topo das prioridades humanas. Porém, deve estar mais no topo ainda quando se pretende viajar a outro país, devendo constar esta preocupação como prioritária no planejamento de quem deseja dedicar-se aos estudos com tranquilidade. 

O sistema de saúde na Holanda é financiado basicamente pelo sistema de seguros, que é obrigatório para a chamada baixa renda (leia-se uns 3.000 euros por mês) por meio de um seguro subsidiado pelo governo (o tal do ziekenfonds) e de livre escolha para os que têm salários mais altos. Para quem vem estudar na Holanda o seguro é obrigatório e condicionante para o visto MVV, que pode ser feito tanto no Brasil quanto em uma seguradora na Holanda, valendo também os Planos de Saúde que tem cobertura internacional. Para quem vem a Holanda sem seguro a situação é complicada, porém o acesso à saúde é um direito de todos, inclusive aos não documentados (ilegais no pais), assim todas as pessoas que necessitem de auxílios médicos e hospitalares emergenciais ou mesmo essenciais serão atendidos. 

O tão sonhado Programa de Saúde da Família (PSF) do Brasil é aplicado no sistema de atendimento holandês, ou seja, não adianta ir direto a um médico especialista, é preciso primeiro passar pelo practitioner (clinico geral), que fará uma avaliação, explorará todas as alternativas possíveis e somente então, se houver real necessidade, encaminhará o paciente para um atendimento de um especialista. O sistema é bom, mas cerceia a liberdade do paciente de ir direto a um especialista, como no caso das mulheres, que precisarão passar pelo clínico geral, mesmo sabendo que precisam de um ginicologista ou um obstetra em caso de pré-natal. O pré-natal aliás é feito pelo clinico geral, que encaminha a paciente a um especialista somente em caso específicos de risco da mãe ou do bebê. 

Quem vem estudar na Wageningen University (WUR) já tem o seguro saúde praticamente encaminhado pelo contato de imigração, bastando apenas dar continuidade aos pagamentos mensais (em geral por débito automático em conta corrente). A universidade também conta com clínicos gerais (conveniados) especializados no atendimento de estudantes de todas as nacionalidades, o que minimiza o impacto cultural quando da necessidade de atendimento. Minimiza, mas não impede surpresas (experiência própria). O fato é que na primeira semana em Wageningen, ou o quanto antes, é preciso cadastrar-se em dos clínicos gerais, apresentando para tanto um formulário com informações médicas pessoais (fornecido pela WUR), cópia do passaporte (aquela parte com foto) e cópia do seguro saúde. Na verdade são dois médicos para a comunidade universitária (não, não estou brincando, são só dois mesmo), a Dr.ª S. van Dinther e o Dr.º R. van der Duin (escolhido por nós na base do “cara ou coroa”). Para maiores informações segue o link do site da WUR que trata da assistência à saúde do estudante http://migre.me/5GXwU e do site da equipe médica http://migre.me/5GXAR . Observe que no site dos médicos há horários específicos para marcação de consultas e atendimentos (não adianta tentar nada fora do horário, eles não atendem, a não ser em caso real de emergência). Também há a possibilidade de consultas on-line, com prescrição e se preciso renovação de receitas, ou seja, se o estudante quiser nem verá a cara do médico. 

Minha esposa precisou recentemente de uma consulta médica, devo dizer que a marcação foi bem rápida, apenas dois dias após o agendamento. E lá fomos nós para rua Duivendaal 4, 6706AR, para a consulta conforme programado com o simpático Drº Van der Duin. Simpático mesmo, este médico é uma figura, parece até um personagem tirado dos Piratas do Caribe (parente do Jack Sparrow, eu acho). Primeiro perguntou o que minha esposa estava fazendo ali, pois não tinha cara de doente (doente tem cara?). Após ouvir os sintomas, confabulou sobre as possíveis causas e receitou um remédio para ver se "resolvia". Por fim, ao saber de nossa diferença de idade (sou 11 anos mais velho que ela), disse que eu era “esperto” e tinha sorte (cada um que me aparece). Como brasileiros que somos, ficamos esperando pela receita, “Mas que receita?” disse o médico. Simples, aqui na Holanda não existe aquele “garrancho” ridículo e ilegível rabiscado num papel que confunde até o mais experiente balconista de farmácia (trabalhei 5 anos em farmácias e sei do que estou falando), mas há sim uma receita bem digitada que é enviada diretamente à farmácia de sua escolha. 

Wageningen, com seus 37.000 habitantes, conta com apenas três farmácia: 1) Service Apotheek van Weringh, 2) Apotheek J. ten Hoopen B.V, 3) Churchill Kring-apotheek . Provavelmente se você passar por uma delas nem se dará conta que é uma farmácia, eu por exemplo passava em frente à Van Weringh (nossa escolha) todos os dias e nunca imaginei que ali funcionasse uma farmácia. De qualquer forma lá fomos nós, logo após a consulta, direto para farmácia, e na entrada nem adianta ir direto ao balcão, é preciso antes pegar uma senha, sentar e aguardar civilizadamente. O atendimento é rápido e prático, perguntam o nome do paciente e o nome do médico, localizam a receita, e se o medicamento estiver disponível já entregam na hora. Vale dizer que o seguro reembolsa todos os medicamentos devidamente receitados (verificar o procedimento em sua seguradora).





A impressão que fica é que o sistema de saúde holandês é excepcional, nem preciso falar que em muitos aspectos, não em todos, é melhor do que no Brasil, essencialmente por atender a todos por um valor que considero simbólico, 40 euros por mês em média (R$ 100,00). Porém o sistema limita muito a liberdade de escolha do paciente, sem falar que um ‘doente’, na acepção da palavra, parecer ser alguém praticamente à beria da morte para um médico holandês. A impressão que passa também é que saúde e custo são irmãos siameses, predominando mais os interesses sobre os custos do que os interesses pela saúde. 

Falei dos médicos, mas ainda não falei dos dentistas. Aí meu amigo (a), torça para não precisar de assistência odontológica, e esta é outra história para um outro por do sol. 


quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Como treinar seu holandês


A primeira e inegável constatação sobre a cultura neerlandesa é que um holandês será sempre um holandês, não adianta estranhar, eles são assim mesmo, seguem sempre um modus operandi característico e único. Inevitavelmente você observará diferenças comportamentais muito divergentes em relação à cultura brasileira e portuguesa. 

Mas vamos a algumas lições importantes que podem ajudar na relação diária com os nativos, especialmente na arte de como treiná-los. Sim, você vai precisar treinar seu holandês, que pode ser um orientador, um chefe, um amigo, um Landlord (proprietário de imóvel), um gerente do banco, colega, companheiro ou companheira, etc, ou seja, todo mundo na Holanda tem um holandês para treinar, e digo ainda que é um serviço à sociedade que deveria ser reconhecido pela ONU. 

Vamos pelo começo, ensine seu holandês que você tem o direito de dizer NÃO. O NÃO é uma palavra tão sagrada quanto o SIM. Porque eu digo isso? É que em geral um holandês típico não está preparado para ouvir uma resposta negativa sobre qualquer assunto que seja, e quando um NÃO aparece repentinamente é como se fosse uma bomba. Verdade, eles ficam tentando compreender, segundo um raciocínio lógico, porque você disse NÃO. Por exemplo, você NÃO é obrigado a alugar uma casa ou apartamento que foi visitar e não gostou, assim basta dizer NÃO gostei e não quero alugar. Pode ter certeza que seu holandês ficará perguntando os porquês, ou “mas é um local tão bom, o que há de errado”. O que há de errado é que geralmente tentam empurrar para nós expats (estrangeiros) imóveis que certamente eles não morariam. Se alugou, ensine seu holandês a avisar quando vêm à sua residência recém locada, nem que seja por email ou um bilhetinho na caixa postal. Infelizmente alguns Landlords (pelo menos na minha experiência), tem a péssima mania de aparecerem de surpresa, como se estivem vigiando o imóvel. 

Se você entrar em supermercado holandês perceberá também que há apenas entradas com portinholas automáticas que regulam o fluxo de clientes, dando a impressão de que se entrou, tem de comprar. Não cai nessa, você tem o direito de apenas olhar e NÃO comprar, em qualquer loja da Holanda, mesmo que eles olhem feio. Dizer NÃO a um holandês é um bem que você faz a comunidade internacional e a eles mesmos, afinal não foram preparados para situações além do planejado, muitas vezes não sabendo perder. Aliás esta é próxima lição, ou seja, ensine seu holandês que ele não vai ganhar sempre e que negociar não significa que só uma única parte ganha numa transação (em geral eles estão programados para não perder nada). 

No mundo teórico da administração aprende-se que as melhores negociações são aquelas do tipo “ganha-ganha”. No mundo holandês as negociações são do tipo “eu sempre ganho e não tem discussão”. Assim, ensine seu holandês a ceder também, demonstrando que não dá para ganhar todas, expondo seu ponto de vista, argumentado suas razões e jamais se colocando em posição de inferioridade numa negociação. Eles já são bem altos, e você baixar a cabeça então já era, está dominado, e você perderá o controle do seu holandês para sempre. 

Seu holandês precisa saber que você tem direito de opinião, mas não apenas formalmente, isto eles já fazem, mas digo de verdade e pra valer, de forma que suas opiniões e argumentações sejam também implementadas e não figurem apenas nas atas das reuniões. 

Nas relações de coleguismo ou amizade, ensine ao seu holandês que um jantar em sua casa, uma saída para bar ou uma caminhada no parque não são um appointment (compromisso formal). Deixe claro que estas atividades são diversão e não trabalho. Como administrador de empresas e funcionário público considero-me um burocrata nato, tenho a formalidade na veia, porém até para mim os holandeses extrapolam. 

Um passo mais adiantado neste treinamento, e que requer técnicas avançadas e de ponta, é treinar seu holandês na compreensão de que a Holanda não é perfeita. Pronto, falei! Sim, há falhas, trens e ônibus atrasam (algumas vezes os horários são modificados arbitrariamente nos displays dos pontos e estações), não há segurança alimentar (a alimentação é uma preocupação diária), ou seja, são reféns dos supermercados (dos seus horários e altos preços), a previsão do tempo também é uma loucura, muda no mínimo duas vezes por dia (não há el niño que justifique isto), a preocupação com a natureza está sempre relacionada a aspectos de custos e alocação de recursos (e não pelo seu valor intrínseco). Assim, não se iluda, seja crítico, e ensine ao seu holandês que você tem o direito de ser crítico (com fundamentação e bom senso, logicamente). 

Contrariar um holandês não é crime, eles precisam saber disso e você pode treinar seu holandês a entender que você tem opinião própria e ela não é figurativa. Tudo isto vai depender do poder de argumentação de cada um, o que contudo não é uma questão só de domínio do inglês, é uma questão de postura. Olhe sempre nos olhos (ainda que seu holandês tenha uns 2 metros de altura), fale com firmeza e não se diminua por ser um expat, ao contrário, demonstre que você está aqui também para contribuir para a sociedade holandesa por um determinado período, mas para isto é preciso que sua voz seja ouvida de forma efetiva e não relativa. Assim, mãos à obra, você já treinou seu holandês hoje?

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Aprendendo Inglês em Wageningen


Uma das características básicas do sistema de educação holandês é que o estudo de inglês faz parte do currículo desde as etapas iniciais do aprendizado infantil, o que o proporciona a quase todos a fluência no idioma (basicamente o inglês britânico). Assim todo mundo fala inglês na Holanda (com algumas poucas exceções), mas com diferentes níveis de conhecimento do idioma, em geral sendo usuários independentes (B1 e B2 no sistema de avaliação europeu) e os mais academicamente instruídos proficientes (C1 e C2). Inicialmente é preciso esclarecer sobre o Quadro Comum de Europeu de Referência de Linguagem que na Universidade de Wageningen é medido pelo Oxford Online Placement Test (OOPT), resumidamente apresentando a seguinte pontuação e descrição: 

A1
Usuário básico, OOPT = 01 - 20
A2
Usuário básico, OOPT = 20 - 40
B1
Usuário Intermediário, OOPT = 40 - 60
B2
Usuário Intermediário, OOPT = 60 - 80
C1
Usuário Proficiente, OOPT = 80 - 100
C2
Usuário Proficiente, OOPT = 100 - 120

Mas e ao estudante ou visitante que chega à Wagenigen e quer aprender ou melhorar o inglês, quais são as opções? Bom, estamos falando de uma cidade do interior da Holanda, que por mais que seja uma cidade universitária apresenta deficiências no acesso a serviços, em especial às escolas de idiomas. Assim é preciso garimpar os cursos adequados ao que cada um precisa, de acordo com necessidades individuais. Façamos então uma avaliação das principais opções disponíveis. 

A primeira delas é oferecida pela própria Universidade de Wageningen por meio do Language Service, que oferece desde o Inglês I ao Inglês IV, onde ao final espera-se que estudante atinja o nível B2. A partir daí há os cursos de redação científica específicos para estudantes de doutorado, onde requer-se no mínino uma pontuação de 70 pontos no OOPT para ingresso (B2). Para fins curiosidade, fiz o OOPT e minha pontuação é 81 (C1), assim me matriculei naquele curso para fins de preparação para redigir adequadamente a tese em inglês. Os cursos são caros para quem é de fora da universidade, a partir de 480 euros, mas acessíveis para os acadêmicos e funcionários a partir de 90 euros. Estudantes de doutorado brasileiros e chineses tem muitas vezes o privilégio de terem estes cursos bancados pelo próprio grupo a que estão associados. 

A segunda opção é a De Volksuniversiteit Wageningen (Universidade Aberta de Wageningen), uma instituição que oferece cursos de inglês a preços mais baixos, a partir de 199 euros por semestre, mais o livro de estudos que custa 35 euros. É interessante observar que os cursos sempre começam em setembro e terminam em abril ou maio, conforme calendário padrão europeu. 

Como terceira opção apresento o Student Plus, que na verdade é um método com tutoria oferecido em diversas cidades do interior da Holanda. Não vou nem posso avalia-lo, mas foi uma indicação de uma colega holandesa. Pela apresentação do site e serviços oferecidos parece uma boa opção, já em relação aos preços me parece que cada negociação deve ser individual e de acordo com as necessidades do estudante. 

A quarta opção considero adequada para quem está engatinhando no inglês pois o curso é para iniciantes que tenham uma certa noção de inglês. O IxESN - Internation Exchange Erasmus Student Network (Rede Internacional de intercâmbio estudantil Erasmus) oferece cursos ministrados por estudantes falantes de inglês nativo (em geral dos Estados Unidos da América) a um valor simbólico de 12 euros. O curso é bom? Para iniciantes sim, especialmente porque haverá contato direto com falantes nativos, sem falar que as aulas são práticas e movem o estudante a se expressar em situações cotidianas.

Por quinto e último deixo as opções para aulas particulares, que podem ser muitas, mas é preciso procurar bem e ver as qualificações dos professores bem como avaliações dos estudantes. Pretendo não citar nomes, mas onde procurar, e neste sentido o melhor portal da Holanda é o Marktplaats, que é todo em holandês mas pode-se usar o Google Chrome que traduz a página inteira para o português. Também há o Speurders, que é um portal que tem de tudo, basta então perquisar encontrar as melhores avaliações. Indico também a intranet da Universidade de Wageningen, porém acessível apenas a quem tem o login, mas lá dá para encontrar ofertas dos próprios estudantes nativos que ministram aulas particulares. Em geral são cobrados 15 euros por hora/aula, mas há logicamente profissionais que cobram bem mais, assim vale a pena pesquisar e ver o que vale mais a pena, pois o importante é não ficar parado. Mas um nome em particular merece ser citado, Ward Cordes, professor de minha esposa, um nativo americano que leciona inglês em Wageningen ao preço de 17 euros por hora/aula. Considero o Ward o melhor custo benefício para aulas particulares dada sua didática que remete ao aluno a destravar o inglês em poucas aulas (email: wardc@chello.nl).

Para quem não é proficiente em inglês e vai ficar na Holanda por um curto período, não vejo vantagens em aprender o Holandês, creio que é melhor focar no aprendizado de inglês e aparar as “arestas” rumo à fluência, senão corre-se o risco de não aprender nem um nem o outro. Logicamente aprender algumas palavras básicas em Dutch não matam ninguém, a não ser o holandês que estiver ouvindo. Assim, tot ziens!



sábado, 20 de agosto de 2011

A estrutura acadêmica da Universidade de Wageningen (WUR)

A estrutura acadêmica da Universidade de Wageningen (WUR) segue o mesmo padrão brasileiro, graduação, mestrado e doutorado, entretanto para estes último há uma distinção vital que influencia diretamente na forma como são tratados e demandados pela universidade. A principal diferença é que, não somente na WUR, mas em toda Holanda, o doutorando é considerado um employee, integrando uma carreira como se fosse um pesquisador júnior, recebendo por isso um salário inicial de 1500 euros, podendo chegar a 2500 euros ao final do doutoramento (4 anos em média). Eis que então não é apenas uma relação estudantil para com a universidade, é mais do que isto, trata-se de um verdadeiro contrato de trabalho com deveres e obrigações, com o postulante a PhD integrando a equipe de pesquisadores e professores do grupo que estiver associado, tendo inclusive voz nas reuniões do grupo. 

Antes de ir adiante, é preciso compreender as diversas categorias de PhD Candidates, que é um conceito diferente em relação ao PhD Student. O primeiro é o Research Assistent (Pesquisador Assistente), que nada mais é do que um trainee empregado pela universidade, preparado para suprir as necessidades funcionais da própria universidade e que ao final será titulado PhD, seu contrato é indeterminado. O segundo é o Sandwich PhD (doutorando sanduíche), que é o estudante que inicia seus estudos na WUR, complementa seus estudos e pesquisa em outra universidade, mas recebe o título pela WUR, podendo ser financiado pela própria universidade ou por terceiros. O terceiro é o Staff PhD (doutorando), que tem um contrato temporário objetivando apenas o cumprimento do período de quatro anos do doutorado. O quarto é o Guest PhD Employee (doutorando convidado), que é um pesquisador que não tem um contrato com a WUR, mas sim com outras instituições financiadoras, e que desenvolvem sua atividades e pesquisas por um determinado período em Wageningen, recebendo o título de PhD pela instituição de origem. O quinto e último é External PhD, que é parecido com o Guest, a não ser pela possibilidade de receber o título também pela WUR, ou seja, um duplo doutoramento. 

Na Universidade de Wageningen sou enquadrado como Guest PhD Employee por ter vínculo com o Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e receber bolsa de estudos no exterior pela CAPES (Coordenação para o Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), recebendo o título (após a defesa de tese) de PhD pela minha instituição de origem. Embora seja um Guest há também uma relação de deveres e obrigações, com um cronograma a ser cumprido e uma série de responsabilidades, pois também passo a receber o “carimbo” de qualidade de WUR, desta forma o nível de exigência é o mesmo, podendo inclusive integrar quaisquer pesquisas da universidade. Sigo também uma rotina de trabalho, com horários (muito embora flexíveis), como em um trabalho comum, reportando à secretária minha ausências para fins de comunicação aos colegas que não raro marcam appointments (Obs.: Tudo que aqui é por appointment, nem que sejam 10 minutos, sempre deve-se marcar estas reuniões deixando bem claro sobre qual assunto irá se tratar, mesmo que sejam sobre amenidades). 

Para que possa desenvolver suas atividades, todo o PhD Candidate tem à sua disposição uma mesa, com um computador, sempre em uma sala compartilhada com outros doutorandos, assim como esta onde fica minha mesa, onde divido o espaço como apenas mais um doutorando: 

Mesa de trabalho e estudo

Vista da sala - 3º andar
Outro fato importante é que o PhD Candidate recebe um cartão da WUR que não é somente para fins de identificação, mas um cartão magnético que inclusive contém um saldo específico para imprimir quaisquer documentos a partir de um computador logado com seu nome de usuário e password. Este cartão permitir acessar as máquinas de café da Douwe Egberts , onde nos intervalos entre um texto ou outro, é possível pegar um café expresso, um cappuccino, um chá ou até um copo de água gelada. Nem preciso dizer que sem o cartão não se pode requisitar livros à biblioteca, mas com uma flagrante diferença em relação ao Brasil, o delivery. Como assim? Pois é, fiz uma reserva de alguns livros que me interessavam pelo site da biblioteca e para minha surpresa, na data prevista para retira-los e eles já se encontravam na mesa da secretária do me grupo de pesquisa, ou seja, nem precisei sair da cadeira. 

WUR Card
Outra coisa que deixa maravilhado qualquer pesquisador é ter praticamente todos os artigos científicos à disposição para download. Sim, é o paraíso dos artigos, basta fazer o login e acessar todos aqueles trabalhos ainda não cobertos pelo Periódico CAPES (que já é uma excelente base de acesso). Para que se tenha uma idéia, certo dia resolvi fazer um teste com o currículo de uma autora que é central em minha tese, resultado, baixei 100% de todos os artigos da autora, incluindo capítulos de livros, e mesmo ebooks completos, isto de forma legal e disponibilizado pelos contratos de acesso da Universidade. 

Quer aprender um novo idioma ou melhorar o inglês? Não tem problema, há o Language Service, que oferece uma série de cursos de idiomas em todos os níveis, tais como inglês, francês, espanhol, Holandês (dutch), ou mesmo cursos de desenvolvimento pessoal, como por exemplo o curso de oratória (em inglês). Estudar cansa a mente? Então há a possibilidade de relaxar e praticar atividades físicas no Sports Centre de Bongerd (SCB), que disponiliza academia, quadra de tênis, squash, natação, entre outros, assim não há desculpas para não praticar esportes, ainda mais pela taxa de 70 euros mensais (para PhDs), que se for pensar bem, considerando o nível do centro de esporte, é uma taxa baixa. 

Há facilidades adicionais, mas isto é uma descoberta pessoal, pois posso dar algumas dicas mas a caminhada é individual, cada um deve buscar, segundo seus objetivos e prioridades, o que mais lhe interessa e aproveitar este período que é único, não importando a idade (nunca é cedo ou tarde demais para fazer um doutorado, cada um tem seu tempo). Também é preciso sair efetivamente do Brasil e abraçar de fato a experiência, procurando centrar-se no que se está fazendo no momento, pois senão corre-se o risco de viver na Holanda e ainda ter a impressão de que se mora no Brasil. A escolha é sua. 

domingo, 14 de agosto de 2011

A mobilidade urbana que sobra na Holanda e falta no Brasil

Segundo o Ministério das Cidades (PlanMob, 2007), a “Mobilidade urbana é um atributo das cidades, relativo ao deslocamento de pessoas e bens no espaço urbano, utilizando para isto veículos, vias e toda a infraestrutura urbana”. Este é um conceito normativo, que não é meu objetivo discutir aqui, sequer iniciar uma discussão teórica maçante e tampouco produtiva, o que quero mesmo é despertar a reflexão sobre o direito de ir e vir, sobre a liberdade de mover-se nas cidades e entre as cidades sem que isto seja um pesadelo ou um sacrifício. 

A mobilidade urbana deveria ser um direito de todos, homens, mulheres, pessoas com mobilidade reduzida ou algum tipo de deficiência, idosos, crianças, gestantes, todos sem discriminação, tal como prevê a Constituição Federal. Porém, esta não é a realidade brasileira, com cidades criadas sob uma lógica “burra” onde somente alguns privilegiados possuem o passaporte da felicidade para estarem aonde desejam, sempre que quiserem. Mobilidade urbana é poder utilizar um transporte público de qualidade que trafegue sob vias pensadas para desafogar e não afogar o trânsito, é ter várias outras opções além do carro para se chegar a um destino, é poder andar de bicicleta com segurança e caminhar nas calçadas planejadas para evitar tropeços eventuais. 

Infelizmente o Brasil só foi pensado para uma única possibilidade de locomoção, o automóvel. Não interessa mais discutir onde erramos em nossa história, mas sim onde não erraremos mais. Não pretendo fazer uma apologia à perfeição da mobilidade urbana na Holanda, porque esta perfeição não existe, porém quando percorro alguns quilômetros de bicicleta rumo à universidade, mesmo sob chuva ou garoa, pedalando sobre uma ciclovia, percebo que ainda estamos distantes de um país realmente desenvolvido. Muito pensarão que isto é apenas conversa de um estudante maravilhado que vive em uma cidadezinha sem problemas do interior da Holanda, mas digo que não é, quem conhece Amsterdam, com seus quase 800 mil habitantes, ou Berlim (Alemanha), com seus mais de 3,4 milhões de habitantes, reconhece isto. 

Estacionamento de bicicletas do Shopping Hoog Catharijne (Utrecht)
Fonte: arquivo pessoal
Mas o que há de diferente na Holanda? Primeiro que quando eles tiveram dinheiro sobrando em caixa investiram pesado na infraestrutura do país, algo que o Brasil está tendo a oportunidade de fazer agora com a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Segundo, eles acertaram nas escolhas adaptadas a cada tipo de cidade, e por último e terceiro há o aspecto educação, nas escolas e no trânsito. Há acidentes de trânsito? Sim, há, mas são raros os acidentes graves. E sobre os congestionamentos de trânsito? Sim, também há e é um grave problema de Amsterdam, porém a partir de 2012 será cobrada uma taxa de 3 centavos de Euro por quilômetro rodado, chegando a 6,7 centavos em 2017, além do mais todo veículo deverá ter obrigatoriamente um GPS afim de se encontrar as opções alternativas para se chegar a um destino. Veja reportagem http://is.gd/ueEQhE.

Tanta taxação sobre o uso os automóveis requer um bom sistema de transporte público e o da Holanda é exemplar. Em qualquer ponto de ônibus há a indicação do horário de cada linha, com um sistema pensado para a interligação com trens, bondes e metrôs em sincronia, tudo funcionando pontualmente. Ok, sim, há atrasos especialmente nas estações de trens, sem falar em algumas mudanças abruptas de horários no displayers nas estações e pontos, mas nada que tire a comodidade do sistema, que pelo menos avisa sobre eventuais atrasos. O fato é que em geral o horário é cumprido rigorosamente, e nos minutos, se um trem ou ônibus está programado para 17h04 não adianta chegar 17h09, já foi, perdeu. Além de tudo, o transporte é limpo e confortável, e os motoristas de ônibus não apostam corrida ou freiam abruptamente, eles sabem perfeitamente que estão transportando cidadãos, não importando sua classe social. Há também no Brasil bons exemplos de transportes públicos bons, como em Curitiba, mas estes são exceção, não regra. 

Quando você chega na Holanda observa que uma “rua” é composta por duas vias, a rua em si, por onde trafegam os carros, a via para as bicicletas e ciclo motores de baixa velocidade. Esta é lógica, cada um no seu canto, seguindo regras de trânsito, inclusive aplicadas aos ciclistas, que podem ser multados se ultrapassarem o sinal vermelho ou não acenderem as luzes da bike durante a noite (conheço brasileiro que conseguiu ser multado por isto na Holanda). 

Eu e meu meio de transporte na Holanda
Assim, a primeira coisa que deve ser adquirida na Holanda é uma bicicleta, todos tem, todos pedalam, não importa a idade, trata-se de um orgulho nacional, e a oferta de bikes é imensa, para todos os bolsos. Aliás, o ofício do bicicleteiro é bem valorizado e bem pago por aqui, fato que percebi quando levei a minha para uma revisão logo após a compra por uma bagatela de 70 euros (bike usada), recebendo uma conta de 50 euros entre acessórios, trava de segurança e revisão elétrica, do total 15 euros só de serviços. Trava? Sim, nem pense em não ter cadeado ou trava na bicicleta se não já era, e se tiver a bike roubada não adianta nem reclamar. Diz a lenda que certa vez um brasileiro teve sua bike roubada e revoltado dirigiu-se a um policial para perguntar onde ficava a delegacia para fazer um registro de ocorrência, no que teve uma inesperada resposta: “Ah, quando eu era adolescente, eu também roubei uma bicicleta.” Contradições da Holanda. 

Centro de Amsterdam - observe as ciclovias (faixas mais escuras)
Fonte: arquivo pessoal

Para períodos curtos na Holanda aconselho a comprar uma bicicleta usada, em Wageningen, por exemplo, basta ir à praça de alimentação em volta da Igreja às quartas ou sábados que há diversos modelos à venda, mas preste atenção, observe sempre aqueles dois itens importantíssimos, trava de segurança (no freio) e mini faróis dianteiros e traseiros (obrigatórios), no mais é só sair pedalando. Quer uma bike novinha em folha? Sem problemas, tem em todo lugar, mas aconselho a ir em lojas especializadas, lá é possível encontrar desde as mais simples por 200 euros em média até de modelos de 3.000 euros, mas uma boa bicicleta, completíssima, sai entre 700 e 800 euros. Tem um modelo que gosto muito, a bicicleta dobrável, que é vendida também no Brasil, é muito útil pela possibilidade de levá-la para qualquer canto, facilita em muito, por exemplo, em uma viajem de trem; nada mais prático por exemplo do que chegar em Haia, Roterdam ou Amsterdam e já sair pedalando para quaisquer lugares. E vamos largar de frescura minha gente, abandonar este mentalidade de pseudo-riqueza e pedalar, é saudável para a natureza, para o próprio corpo e para o bolso (parte mais importante do corpo para muita gente).