Saúde é coisa séria, tudo mundo sabe, e está no topo das prioridades humanas. Porém, deve estar mais no topo ainda quando se pretende viajar a outro país, devendo constar esta preocupação como prioritária no planejamento de quem deseja dedicar-se aos estudos com tranquilidade.
O sistema de saúde na Holanda é financiado basicamente pelo sistema de seguros, que é obrigatório para a chamada baixa renda (leia-se uns 3.000 euros por mês) por meio de um seguro subsidiado pelo governo (o tal do ziekenfonds) e de livre escolha para os que têm salários mais altos. Para quem vem estudar na Holanda o seguro é obrigatório e condicionante para o visto MVV, que pode ser feito tanto no Brasil quanto em uma seguradora na Holanda, valendo também os Planos de Saúde que tem cobertura internacional. Para quem vem a Holanda sem seguro a situação é complicada, porém o acesso à saúde é um direito de todos, inclusive aos não documentados (ilegais no pais), assim todas as pessoas que necessitem de auxílios médicos e hospitalares emergenciais ou mesmo essenciais serão atendidos.
O tão sonhado Programa de Saúde da Família (PSF) do Brasil é aplicado no sistema de atendimento holandês, ou seja, não adianta ir direto a um médico especialista, é preciso primeiro passar pelo practitioner (clinico geral), que fará uma avaliação, explorará todas as alternativas possíveis e somente então, se houver real necessidade, encaminhará o paciente para um atendimento de um especialista. O sistema é bom, mas cerceia a liberdade do paciente de ir direto a um especialista, como no caso das mulheres, que precisarão passar pelo clínico geral, mesmo sabendo que precisam de um ginicologista ou um obstetra em caso de pré-natal. O pré-natal aliás é feito pelo clinico geral, que encaminha a paciente a um especialista somente em caso específicos de risco da mãe ou do bebê.
Quem vem estudar na Wageningen University (WUR) já tem o seguro saúde praticamente encaminhado pelo contato de imigração, bastando apenas dar continuidade aos pagamentos mensais (em geral por débito automático em conta corrente). A universidade também conta com clínicos gerais (conveniados) especializados no atendimento de estudantes de todas as nacionalidades, o que minimiza o impacto cultural quando da necessidade de atendimento. Minimiza, mas não impede surpresas (experiência própria). O fato é que na primeira semana em Wageningen, ou o quanto antes, é preciso cadastrar-se em dos clínicos gerais, apresentando para tanto um formulário com informações médicas pessoais (fornecido pela WUR), cópia do passaporte (aquela parte com foto) e cópia do seguro saúde. Na verdade são dois médicos para a comunidade universitária (não, não estou brincando, são só dois mesmo), a Dr.ª S. van Dinther e o Dr.º R. van der Duin (escolhido por nós na base do “cara ou coroa”). Para maiores informações segue o link do site da WUR que trata da assistência à saúde do estudante http://migre.me/5GXwU e do site da equipe médica http://migre.me/5GXAR . Observe que no site dos médicos há horários específicos para marcação de consultas e atendimentos (não adianta tentar nada fora do horário, eles não atendem, a não ser em caso real de emergência). Também há a possibilidade de consultas on-line, com prescrição e se preciso renovação de receitas, ou seja, se o estudante quiser nem verá a cara do médico.
Minha esposa precisou recentemente de uma consulta médica, devo dizer que a marcação foi bem rápida, apenas dois dias após o agendamento. E lá fomos nós para rua Duivendaal 4, 6706AR, para a consulta conforme programado com o simpático Drº Van der Duin. Simpático mesmo, este médico é uma figura, parece até um personagem tirado dos Piratas do Caribe (parente do Jack Sparrow, eu acho). Primeiro perguntou o que minha esposa estava fazendo ali, pois não tinha cara de doente (doente tem cara?). Após ouvir os sintomas, confabulou sobre as possíveis causas e receitou um remédio para ver se "resolvia". Por fim, ao saber de nossa diferença de idade (sou 11 anos mais velho que ela), disse que eu era “esperto” e tinha sorte (cada um que me aparece). Como brasileiros que somos, ficamos esperando pela receita, “Mas que receita?” disse o médico. Simples, aqui na Holanda não existe aquele “garrancho” ridículo e ilegível rabiscado num papel que confunde até o mais experiente balconista de farmácia (trabalhei 5 anos em farmácias e sei do que estou falando), mas há sim uma receita bem digitada que é enviada diretamente à farmácia de sua escolha.
Wageningen, com seus 37.000 habitantes, conta com apenas três farmácia: 1) Service Apotheek van Weringh, 2) Apotheek J. ten Hoopen B.V, 3) Churchill Kring-apotheek . Provavelmente se você passar por uma delas nem se dará conta que é uma farmácia, eu por exemplo passava em frente à Van Weringh (nossa escolha) todos os dias e nunca imaginei que ali funcionasse uma farmácia. De qualquer forma lá fomos nós, logo após a consulta, direto para farmácia, e na entrada nem adianta ir direto ao balcão, é preciso antes pegar uma senha, sentar e aguardar civilizadamente. O atendimento é rápido e prático, perguntam o nome do paciente e o nome do médico, localizam a receita, e se o medicamento estiver disponível já entregam na hora. Vale dizer que o seguro reembolsa todos os medicamentos devidamente receitados (verificar o procedimento em sua seguradora).
A impressão que fica é que o sistema de saúde holandês é excepcional, nem preciso falar que em muitos aspectos, não em todos, é melhor do que no Brasil, essencialmente por atender a todos por um valor que considero simbólico, 40 euros por mês em média (R$ 100,00). Porém o sistema limita muito a liberdade de escolha do paciente, sem falar que um ‘doente’, na acepção da palavra, parecer ser alguém praticamente à beria da morte para um médico holandês. A impressão que passa também é que saúde e custo são irmãos siameses, predominando mais os interesses sobre os custos do que os interesses pela saúde.
Falei dos médicos, mas ainda não falei dos dentistas. Aí meu amigo (a), torça para não precisar de assistência odontológica, e esta é outra história para um outro por do sol.
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